Num momento em que o mundo árabe e islâmico testemunha tragédias humanas devastadoras — desde os massacres diários em Gaza até os ataques militares conjuntos dos Estados Unidos e de “Israel” contra a República Islâmica do Irã — o regime marroquino opta por seguir adiante com a realização do festival internacional de música “Mawazine”, numa cena que muitos ativistas e analistas descrevem como uma desconexão absoluta em relação ao sofrimento da Ummah (nação islâmica) e uma cumplicidade silenciosa com políticas de opressão e agressão.

O sangramento de Gaza e o silêncio de Rabat

Desde outubro de 2023, Gaza vem sendo alvo de uma guerra de extermínio sistemática por parte de “Israel”, que já causou a morte de milhares de civis, em sua maioria crianças e mulheres. O mundo inteiro testemunha a dimensão da catástrofe humanitária: bairros inteiros destruídos, hospitais e escolas bombardeados, campos de refugiados sob ataque. Apesar disso, o Estado marroquino limita-se a declarações tímidas ou ao silêncio total, sem qualquer iniciativa política ou diplomática concreta para pressionar o regime ocupante ou defender com seriedade a causa palestina.

Esse silêncio é particularmente chocante ao lembrarmos que o rei Mohammed VI ocupa oficialmente o cargo de Presidente do Comitê Al-Quds (Jerusalém), órgão da Organização para a Cooperação Islâmica que deveria exercer um papel de liderança na defesa da cidade sagrada e no apoio ao povo palestino.

Agressão contra o Irã… e uma neutralidade vergonhosa

Ao mesmo tempo, o Irã tem sido alvo de repetidos ataques militares por parte de “Israel” e dos Estados Unidos, que atingiram instalações militares, centros de pesquisa e até altos oficiais da Guarda Revolucionária. Tais ataques violam abertamente o direito internacional e fazem parte de uma ofensiva coordenada contra o chamado “Eixo da Resistência” no Oriente Médio.

Em vez de condenar essa agressão evidente ou assumir uma posição de solidariedade com um país membro da comunidade islâmica, Rabat preferiu o silêncio — e inclusive aprofundou, nos últimos meses, suas relações com Tel Aviv, em áreas como segurança, economia e turismo. Essa política gerou ampla indignação popular, tanto dentro quanto fora do país.

Festival Mawazine: festa sobre os escombros

Em meio a essas tragédias humanas e políticas, o governo marroquino segue investindo milhões de dirhams na organização do festival “Mawazine: Ritmos do Mundo”, que traz artistas internacionais à capital Rabat e recebe ampla cobertura midiática, com orçamentos generosos, enquanto a própria população marroquina enfrenta crises sociais e econômicas cada vez mais graves.

Para muitos, a manutenção desse festival representa uma demonstração clara das prioridades do regime, em que a aparência e a imagem internacional de “abertura cultural” são colocadas acima do compromisso moral com as causas fundamentais da Ummah, especialmente a Palestina. Além disso, o festival é visto como uma ferramenta para distrair a opinião pública dos problemas internos e neutralizar vozes críticas ao regime e ao processo de normalização com “Israel”.

Conclusão: dupla moral e traição ao papel islâmico

Essa realidade revela uma contradição gritante entre o discurso oficial do Marrocos — que afirma apoiar a causa palestina — e suas práticas concretas, que na verdade contribuem para o abandono da luta legítima dos povos oprimidos. Com Mohammed VI à frente do Comitê de Jerusalém, essa omissão não é apenas um silêncio, mas uma traição explícita ao papel que se espera do Marrocos dentro do mundo islâmico.

As celebrações luxuosas do festival Mawazine, ao som de aplausos e luzes, enquanto crianças morrem em Gaza e mesquitas são destruídas em Jerusalém e Teerã, representam uma mancha vergonhosa sobre qualquer regime que coloque seus interesses políticos e econômicos acima da justiça, da solidariedade e da dignidade humana.

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Last Update: 25/06/2025