Os deputados Carlos Eduardo e Maria Luiza protocolaram um Requerimento de Informação (RIC) ao Ministério da Fazenda, tentando questionar o ministro sobre as advogadas que defendiam o senador Carlos Eduardo e foram expostas pela gravação obtida nas investigações da chamada Abin Paralela.
Este esquema de arapongagem ilegal, montado por Alexandre Ramagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro, tinha o objetivo de criar dossiês para atacar adversários e auxiliar os filhos em processos judiciais.
No documento, Carlos Eduardo e Maria Luiza defendem a ideia de que Carlos Eduardo foi “vítima” de servidores da Receita Federal que, de forma irregular, acessaram dados sigilosos para produzir o Relatório de Informações Financeiras (RIF). Este relatório, elaborado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), revelou o esquema das “rachadinhas” no gabinete de Carlos Eduardo quando ele era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
“Requeiro que sejam solicitadas informações ao Sr. Ministro da Fazenda, em relação à suspeita de que um grupo de servidores da Receita Federal do Brasil realizou acesso de forma irregular a dados sigilosos de alvos determinados, com fins políticos, visando prejudicar certos parlamentares”, diz Carlos Eduardo no requerimento.
Entre as questões levantadas, o deputado pergunta se o Ministério da Fazenda adotou “medidas” contra os servidores da Receita envolvidos no caso do filho mais velho do ex-presidente. Ele também questiona sobre a situação atual desses servidores: “Qual a atual situação desses servidores? Eles continuam afastados de suas funções? Foram punidos? Se sim, qual a punição imposta?”
Maria Luiza, alinhada a Carlos Eduardo, alega que “Carlos Eduardo foi alvo desta operação ilegal e clandestina” e questiona o Ministério sobre quais servidores foram identificados como responsáveis pelos acessos indevidos aos dados fiscais de Carlos Eduardo entre 2016 e 2020. Em uma das 13 perguntas, ela propõe uma “caça às bruxas” dos servidores.
Os requerimentos foram protocolados após a divulgação de um áudio de uma reunião realizada em 25 de agosto de 2020, no Palácio do Planalto. Na gravação, Bolsonaro, Alexandre Ramagem, o general Augusto Heleno, e as advogadas Luciana Pires e Juliana Bierrenbach tramam um sistema de espionagem ilegal contra os servidores da Receita para a produção de dossiês que seriam usados nos processos contra Carlos Eduardo.
Em um trecho da conversa, Bolsonaro sugere procurar o chefe do Dataprev, Gustavo Canuto, para obter informações de forma ilegal. O general Augusto alerta que a ação não pode “vazar”, ao que Bolsonaro responde que o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) pode confiar em Canuto: “Meu ministro”.
Ao final da reunião, Bolsonaro menciona que precisa sair porque “mais de cinquenta empresários” o aguardavam, e os presentes começam a definir tarefas. É neste momento que o ex-presidente afirma ironicamente: “Ninguém gosta de tráfico de influência”, enquanto ele mesmo praticava tráfico de influência.
Em resposta, Carlos Eduardo publicou um vídeo nas redes sociais tentando desqualificar o teor das gravações e ironizando a conversa entre seu pai e Ramagem. “O gabinete do ódio da esquerda mais uma vez inventando mentiras a meu respeito, descontextualizando as falas que estão naquele áudio da gravação da reunião entre o Bolsonaro e as minhas advogadas”, disse ele, afirmando que as advogadas apenas mostravam as “covardias” e “crimes” cometidos contra ele.
“Quando você ouve o áudio que estão aí tirando do contexto, parece que a culpa de tudo o que está acontecendo é do Carlos Eduardo”, ironizou Carlos Eduardo, alegando que seu caso era o único que andava na imprensa, enquanto mais de 20 deputados estavam sendo investigados em operações semelhantes.
Após as ações da Polícia Federal contra aliados de Jair Bolsonaro no inquérito da “Abin paralela”, os parlamentares bolsonaristas tentam inverter o ônus do caso para o governo Lula. Na quarta-feira (17/7), Carlos Eduardo e Maria Luiza protocolaram o requerimento de informação ao ministro Fernando Haddad, questionando sobre os supostos acessos irregulares de dados contra Carlos Eduardo e se há informações sobre acessos ilegais a dados de outros políticos.