Um setor da esquerda tem se mostrado entusiasmado com a nomeação do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sob o controle do imperialismo desde o governo Jair Bolsonaro. Marco Damiani, no Brasil 247, elogiou a estratégia do governo Lula, que colocou o presidente ao lado dos neoliberais Fernando Haddad e Galípolo para supostamente apresentar uma nova política econômica.

“Na primeira intervenção pontual em vídeo desde a alta hospitalar do presidente Lula e, especialmente, em meio ao fogaréu da queima de bilhões de dólares em praça pública, o marqueteiro Sidônio Palmeira mostrou ter um toque de classe. Instalou o presidente com seu simpático chapéu, livros ao fundo, entre o ministro da Fazenda e o futuro presidente do Banco Central, numa mesa também composta pelos ministros Rui Costa, da Casa Civil, e Simone Tebet, do Planejamento. Com Fernando Haddad à sua esquerda e Gabriel Galípolo à direita, Lula abordou com simpatia e tranquilidade o tema quente. Comunicou, enfático, o que queria dizer na direção do que o mercado queria ouvir e, de pronto, colheu como resultado o recuo da moeda americana frente ao real. Bela jogada do camisa 10 e dos dois pontas, mas o gol foi para Sidônio”.

Pela declaração, vê-se o entusiasmo. Sidônio continua: “O filme que o marqueteiro de Lula em 2022, hoje cotado para assumir Secom, dirigiu é claro e leve na forma. Mas, diferente dos vídeos potentes em efeitos especiais e estéreis em conteúdo que os marqueteiros de direita contratados pela esquerda costumam produzir para as campanhas eleitorais do PT, nesta peça de governo há mensagens fortes e definitivas. Elas estão em primeiro plano”.

“É conteúdo firme e forte Lula aparecer entre Haddad e Galípolo. Mostra que, apesar das diatribes do mercado, o Brasil tem um governo sério e atuante. Endereça que, no futuro breve, o País terá um presidente do Banco Central que não será incomodado por Lula como o próprio presidente fez em relação a Roberto Campos Neto. O vídeo encerra uma promessa presidencial de respeito, distância e, sim, silêncio. Também clareou que o ajuste fiscal continua, é permanente e está apenas no começo. Jurou temer a inflação. Tudo redondo”.

“A partir da peça, que bombou, não há mais nenhuma condição de Lula buscar pressionar o ex-auxiliar de Haddad, ao menos publicamente. Se o fizer, cairá em contradição para ser mais malhado que Judas em poste. Ao prometer deixar Galípolo trabalhar sem ruídos, tranquilizou momentaneamente o mercado. Extraiu o máximo de rendimento positivo de uma peça que poderia não ter obtido nenhuma repercussão, ou ter representado um tiro no pé, como muitas vezes acontece.’

“Estamos acostumados a ver peças políticas discursivas que não levam a compreensão nenhuma. Apenas enrolam em cores. Em troca de bom dinheiro, os marqueteiros e seu poder de determinar falas, definir ângulos e fazer cortes são os filtros entre a mensagem e o público. O fracasso deles, no campo da esquerda, é exposto a cada eleição em que a representatividade eleitoral de seus candidatos encolhe. Muitos bons quadros sucumbem menos por sua história, suas propostas e seu trabalho, e mais por não terem encontrado tradutores capazes de comunicar corretamente as suas biografias, realizações e propostas.”

“O jornalista, professor e fundador da Editora Oboré, Sérgio Gomes da Silva, ensina que comunicação é comunicar ação. O governo tem muita ação e deve comunicá-las melhor. Lula foi o primeiro a perceber. Agora, tem em Sidônio Palmeira um profissional que sabe comunicar ação. Um artilheiro.”

No entanto, ao contrário do que nos diz o articulista, a decisão de Lula foi um tiro no pé. Isso porque Galípolo não é flor que se cheire. Ao aparecer ao lado dele, de fato, como diz o autor no 247, Lula se compromete com o novo presidente do BC, mas isso é um erro absoluto. Algumas reportagens desse jornal nos mostram o porquê.

Gabriel ‘Campos Neto’ Galípolo

20/12/2024, Diário Causa Operária

Às vésperas de assumir o cargo de novo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, saiu do armário. Em sua última coletiva de imprensa com o atual presidente, o golpista Roberto Campos Neto, o novato deixou claro que seguirá os passos de seu mestre na condução da política fiscal da autarquia.

“Roberto, a casa é sua, sempre estaremos de portas abertas para você. Sou muito grato por tudo que fez pela política monetária, pela casa e por todos nós. Obrigado mesmo, meu amigo”, disse Galípolo.

A bajulação foi tamanha que a imprensa burguesa, por meio do Estadão, afirmou que o recado ficou claro: “Campos Neto, que foi alvo preferencial do PT e do presidente Lula ao longo do ano para eximirem-se das responsabilidades sobre as instabilidades econômicas no País, está de saída, mas isso não significa abrir as portas para interferência política dos petistas”.

Para eliminar qualquer dúvida acerca da natureza de sua relação com Campos Neto, Galípolo ainda defendeu o golpista, deixando claro que, assim como as portas do BC, suas pernas também estão abertas para o indicado por Bolsonaro:

“Sou testemunha de que o Roberto, em todas as reuniões, atuou com preocupação em relação ao País, sempre pensando o que era melhor para a economia brasileira e o que era para o país e em fortalecer a gente”, afirmou Galípolo na mesma coletiva.

O novo presidente do BC chegou ao cúmulo de elogiar o avô de Campos Neto que, de tão entreguista, de tão cadela dos Estados Unidos, ficou conhecido como Bob Fields devido a sua atuação como ministro do Planejamento no governo do ditador Castelo Branco (1964-1967). “O avô do Roberto ficaria orgulhoso pela contribuição e demonstração de força institucional do BC. Agradeço como futuro presidente, brasileiro e como amigo”, disse Galípolo em sua serenata.

Diante dessas declarações, o que dizer aos sonhadores da esquerda que elogiaram a “brilhante” escolha de

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Last Update: 23/12/2024