O crime organizado fatura alto com furtos de celulares e golpes virtuais no País. É o que mostra um relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que estima que as organizações criminosas ganharam 186 bilhões de reais com essas duas práticas criminosas entre julho de 2023 e julho de 2024.

Os ganhos bilionários do crime organizado foram estimados a partir de uma combinação de “dados secundários provenientes de fontes oficiais, instituições acadêmicas, representações setoriais, institutos de pesquisa, organizações da sociedade civil e notícias da imprensa profissional”. Para chegar aos números, o Fórum também fez entrevistas em profundidade com profissionais que atuam nos principais órgãos e instituições envolvidos na resposta ao crime organizado.

Divulgado nesta quarta-feira 12, o relatório dá detalhes sobre o tamanho do faturamento das facções com diferentes crimes cometidos no Brasil. Um deles, é o comércio ilegal de combustíveis, cigarros, bebidas e ouro que teriam rendido quase 147 bilhões de reais ao crime organizado. Os dados, nesse caso, são de 2022. 

Naquele ano, as receitas do crime organizado se dividiram, segundo o Fórum, da seguinte maneira:

  • Combustíveis e lubrificantes: 61,5 bilhões de reais;
  • Bebidas: 56,9 bilhões de reais;
  • Extração e produção de ouro: 18,2 bilhões de reais;
  • Tabaco e cigarros: 10,3 bilhões de reais.

Quadrilhas que atuam no País também conseguiram, ainda segundo o FBSP, uma receita de mais de 15 bilhões de reais com o tráfico de cocaína em 2022.

“É importante frisar que este valor é uma estimativa, isto é, um cálculo aproximado, e não um valor exato”, alertam os pesquisadores no relatório. “Por isso, é fundamental interpretar os números que geramos neste relatório como aproximações e insumos para discussão. Tendo isso em mente, ainda que esses valores sejam aproximações, eles podem ser lidos como ferramentas úteis na medida em que ajudam a jogar luz na ordem de magnitude do problema e a identificar tendências”, destaca a organização.

Impactos ambientais e fiscais

O caso específico do comércio ilegal de ouro chama a atenção pelo seu impacto na Amazônia. É de lá que sai boa parte da matéria-prima usada para a comercialização paralela, uma vez que, segundo o FBSP, 38% de toda a produção nacional de ouro feita entre 2015 e 2020 tem indícios de ilegalidade.

Já o comércio ilegal de combustíveis se destaca pelo volume e pelo prejuízo causado aos cofres públicos. Segundo a entidade, são 13 bilhões de litros comercializados ilegalmente todos os anos, fazendo com que o Estado deixe de arrecadar 23 bilhões de reais.

Leia a íntegra do relatório:

FOLLOW-THE-PRODUCTS-2025-v06-digital_FINAL

Estrutura do crime

Os crimes citados, de acordo com o estudo, não se dão de maneira isolada. Eles formam um “ecossistema que ultrapassa o narcotráfico e contrabando ilegais”. De acordo com o relatório, essa realidade se torna possível porque os grupos criminosos exploram brechas na legislação para lavar o dinheiro obtido pelo tráfico de drogas.

Assim, a dificuldade para se combater o crime organizado tem múltiplas dimensões. Segundo o FBSP, as atividades criminosas são facilitadas pela ausência de integração de dados e de informações sobre produção, rastreamento, tributação e segurança entre vários órgãos do País, a exemplo da Receita Federal, da Polícia Federal e das agências regulatórias.

As práticas criminosas no Brasil também se adaptam a inovações tecnológicas. Dessa maneira, segundo o relatório, “a alta taxa de furtos de celulares facilita essas mudanças, uma vez que os equipamentos eletrônicos, e os celulares em especial, se tornaram portões de entrada para crimes digitais”.

Para além do mercado clandestino

Os ganhos das facções criminosas, tradicionalmente, estão relacionados a mercados paralelos, como é o caso do tráfico de drogas. Entretanto, o nível de poder das organizações do País permite a entrada delas em mercados regulados.

Exemplo disso é a atividade do Primeiro Comando da Capital (PCC), considerada a principal organização criminosa do País e que atua especialmente em São Paulo. 

O relatório cita, nesse caso, as investigações que apontam a conexão do PCC com empresas de transporte público na capital paulista durante a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB). “Com um faturamento anual estimado em R$ 6,7 bilhões, o PCC estaria explorando o sistema de transporte público para delimitar seus ganhos ilegais”.

A penetração do PCC no transporte público de São Paulo ficou conhecida na operação “Fim da linha”, deflagrada em abril do ano passado. A investigação mostrou que duas empresas de transporte da capital do estado, a Transwolff e a Upbus, eram comandadas por integrantes do crime organizado. No final do último mês de janeiro, a prefeitura de SP encerrou os contratos com as empresas.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 13/02/2025