Nessa segunda-feira (14), a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgou uma lista de setores que serão ofertados no quinto ciclo de leilões do programa de Oferta Permanente de Concessão (OPC) — isto é, do programa de privatizações da agência. Marcado para o dia 17 de junho, o leilão terá 16 setores distribuídos por cinco bacias sedimentares, sendo quatro marítimas e uma terrestre.

A ANP é uma autarquia federal vinculada ao Ministério de Minas e Energia, responsável por regular, contratar e fiscalizar as atividades econômicas que envolvem a exploração, desenvolvimento, produção e comercialização de petróleo, gás natural e biocombustíveis no Brasil. Criada pela Lei do Petróleo (Lei nº 9.478/1997), a ANP surgiu durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), que promoveu a abertura do setor à iniciativa privada após décadas de monopólio da Petrobrás.

Embora a ANP tenha autonomia técnica, suas decisões seguem diretrizes formuladas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão presidido pelo ministro de Minas e Energia e composto por membros de diversos ministérios. Ou seja, as ações da ANP — como os leilões de concessão de blocos exploratórios — passam pelo próprio governo. No entanto, essa autonomia operacional também permite que a agência atue com certa independência em relação a pressões políticas imediatas.

O leilão em si já é um escândalo. Afinal, parte da riqueza nacional — e de uma riqueza que se tornará cada vez mais disputada, dado o seu caráter esgotável — está sendo entregue ao grande capital. Mas mais escandaloso ainda é o fato de que, entre as bacias que serão leiloadas, está a Bacia da Foz do Amazonas, localizada na chamada Margem Equatorial.

Entre as 31 empresas habilitadas para o leilão, 18 são brasileiras — embora sejam dominadas pelo capital estrangeiro. O conjunto das empresas listadas é o seguinte:

Brasil (18)

  • Aguila Energia e Participações Ltda.
  • Apoema Consultores em Óleo e Gás Ltda.
  • Atem Participações S.A.
  • Dillianz Petróleo & Gás Natural – Biocombustível S.A.
  • Dimensional Engenharia Ltda.
  • Energizzi Energias do Brasil Ltda.
  • Federal Energia S/A
  • Fluxus Óleo, Gás & Energia Ltda.
  • Grupo Ubuntu Ltda.
  • Lux Oil Ltda.
  • Mandacaru Energia Ltda.
  • Newo Óleo e Gás Ltda.
  • NTF Óleo e Gás Ltda.
  • Origem Energia S.A.
  • Petroborn Óleo e Gás S.A.
  • Petróleo Brasileiro S.A.
  • PetroRecôncavo S.A.
  • Westlawn Energia Brasil Ltda.

Reino Unido (2)

  • BP Energy do Brasil Ltda.
  • Shell Brasil Petróleo Ltda.

Estados Unidos (2)

  • Chevron Brasil Óleo e Gás Ltda.
  • Exxonmobil Exploração Brasil Ltda.

China (3)

  • CNODC Brasil Petróleo e Gás Ltda.
  • CNOOC Petroleum Brasil Ltda.
  • Sinopec Exploration and Production (Brazil) Ltda.

Noruega (1)

  • Equinor Brasil Energia Ltda.

França (1)

  • TotalEnergies EP Brasil Ltda.

Portugal (1)

  • Petrogal Brasil S.A.

Catar (1)

  • QatarEnergy Brasil Ltda.

Colômbia (1)

  • Ecopetrol Óleo e Gás do Brasil Ltda.

Austrália (1)

  • Karoon Petróleo e Gas Ltda.

A decisão da ANP gerou uma reação da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Em entrevista ao Brasil 247, seu coordenador-geral, Deyvid Bacelar, destacou que, enquanto essas áreas eram liberadas para serem vendidas para petroleiras estrangeiras, a Petrobrás, empresa de economia mista que detinha o monopólio da exploração do petróleo, aguarda uma licença ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) para atuar na região.

“O Ibama nega licença para a Petrobrás, a maior empresa pública do país, e, na sequência, a ANP libera a Margem Equatorial para a atuação de petroleiras estrangeiras. Este é um absurdo que ameaça a soberania energética nacional.”

A Petrobrás tenta, há anos, obter licença do Ibama para perfurar um poço exploratório a cerca de 160 km da costa do Amapá. O pedido, no entanto, foi negado pela autarquia ligada ao Ministério do Meio Ambiente, que é comandado por Marina Silva. Tanto Silva quando a direção do Ibama são ligados a Organizações Não Governamentais (ONGs) que recebem financiamento estrangeiro. Criticando o Ibama, Bacelar declarou que:

“O órgão não tem a prerrogativa de decidir se o Brasil deve ou não explorar petróleo — essa é uma atribuição do Conselho Nacional de Política Energética. O papel do Ibama é determinar a melhor forma de exploração, garantindo que os impactos ambientais sejam minimizados e que a atividade ocorra com segurança para o meio ambiente e para as pessoas.”

Bacelar também alertou para os riscos de o Brasil voltar a ser dependente de petróleo importado caso novas reservas não sejam descobertas. Atualmente, o País é autossuficiente, com produção de cerca de 3,5 milhões de barris por dia, sendo 78% oriundos do pré-sal.

A decisão da ANP esclarece o motivo de o Ibama, a serviço de interesses estrangeiros, negar licença à Petrobrás. Para o grande capital, o petróleo da Margem Equatorial deve ser explorado apenas pelos grandes monopólios, como a Chevron e a TotalEnergies. Para o grande capital, o petróleo brasileiro não pertence aos brasileiros.

O silêncio do governo Lula enquanto a ANP leiloa a Margem Equatorial é vergonhoso. É uma capitulação diante de uma operação de roubo em plena luz do dia das riquezas nacionais.

É preciso não apenas denunciar o caráter ilegal dos leilões, como atropelar a sabotagem do Ibama e explorar imediatamente a Margem Equatorial. É preciso, ainda, ir além, estatizando a Petrobrás e estabelecendo o controle operário sobre a empresa.

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Last Update: 18/04/2025