A Polícia Federal prendeu, neste sábado (25), a bolsonarista Cristiane da Silva, de 33 anos, ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Fortaleza (CE). Ela foi uma das deportadas pelo governo do presidente norte-americano Donald Trump em voo de repatriação organizado pelo governo brasileiro e possuía mandado de prisão em aberto por envolvimento nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a um ano de prisão por associação criminosa, Cristiane teve a pena convertida em medidas alternativas, como prestação de serviços comunitários, pagamento de multa e participação em curso sobre democracia.
Em vez de cumprir as determinações, ela recusou o acordo de não persecução penal e fugiu do país em 2024.
A fuga incluiu passagens por Argentina, Peru, Colômbia, Panamá e México. Em 2024, com o processo ainda em fase preliminar, Cristiane teve a oportunidade de encerrar a ação penal com um acordo de não persecução — mas preferiu fugir do Brasil e integrar uma rede de foragidos.
Deixou a Argentina após o governo de Javier Milei iniciar colaboração com a Justiça brasileira. Na sequência, passou pelo Peru e pela Colômbia, que abandonou por, segundo ela, ser governada pela esquerda de Gustavo Petro.
Continuou o trajeto por Panamá e México até a tentativa frustrada de entrada nos EUA.
Cristiane foi presa em El Paso, no Texas, em 21 de janeiro deste ano — um dia após a posse de Donald Trump. Outras duas bolsonaristas, Rosana Maciel Gomes e Michely Paiva Alves, foram detidas com ela.
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Uma quarta foragida, Raquel Souza Lopes, foi presa dias antes no leste do estado.
As quatro brasileiras foram identificadas pelas autoridades da imigração norte-americana e aguardavam deportação. A expectativa de receber acolhimento do novo governo republicano, considerado próximo a Jair Bolsonaro, não se concretizou.
Cristiane chegou ao Brasil em voo humanitário que trouxe 103 deportados — 90 homens e 13 mulheres, a maioria entre 18 e 29 anos. Segundo o ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, três pessoas tinham mandados de prisão ativos e foram encaminhadas diretamente à custódia da Polícia Federal. As demais seguiram para Confins (MG), em aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB).
Antes da deportação, Cristiane falou por vídeo com a reportagem do UOL. Negou participação nos crimes, afirmou ter ido a Brasília apenas para “passear” e repetiu versões falsas de que os atos golpistas teriam sido provocados por “infiltrados de esquerda”.
O STF, no entanto, já condenou centenas de pessoas envolvidas nos ataques e reiterou a gravidade das ações cometidas contra as instituições democráticas.
Cooperação internacional e cerco aos golpistas
A deportação de Cristiane ocorre em meio a um esforço coordenado do governo brasileiro para repatriar cidadãos com situação irregular nos EUA, com ações conjuntas dos ministérios da Justiça, Relações Exteriores, Direitos Humanos, Saúde e Defesa.
Desde fevereiro, mais de 780 brasileiros já foram repatriados, com apoio psicológico, kits de higiene e encaminhamento a políticas públicas como SUS e SUAS.
O caso da foragida evidencia o enfraquecimento da rede de proteção buscada por setores golpistas no exterior. Mesmo governos ideologicamente simpáticos ao bolsonarismo, como o de Javier Milei, têm cumprido mandados de cooperação com a Justiça brasileira.
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