Piauí – Assentamento Lisboa. Foto: Lucas Sousa

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Atualmente, já são mais de 40 mil palestinos assassinados, dos quais 70% são mulheres e crianças. Diante do genocídio realizado por Israel em Gaza, somado à uma limpeza étnica avançada na região da Cisjordânia, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) não tem medido esforços para se somar ao chamado mundial pelo cessar fogo e à condenação de Israel por seus crimes contra a humanidade.

Ao mesmo tempo, não é novidade que a arte é uma ferramenta de resistência, política e social. Usada na luta contra à opressão e por direitos, a arte faz parte da nossa existência e o muralismo, em particular, é uma das formas de arte pública e popular que ganhou destaque no século XX, na Revolução Mexicana, tendo como um de seus principais objetivos levar a arte ao povo, transformando-a em um meio de educação e conscientização política.

Forma relevante de arte de resistência, o movimento muralista foi sendo utilizado desde então por movimentos sociais em diversas partes do mundo para expressar suas demandas e criticar estruturas de poder. Diante das inúmeras violações de direitos humanos que não começaram agora na Palestina, o MST construiu a chamada para a “Jornada Nacional de Muralismo Palestina Livre”.

A ideia era que, a partir destes murais, o genocídio na Palestina não fosse esquecido, e a arte pudesse relembrar e homenagear a resistência contra a opressão sionista e a identidade cultural palestina. Ao tornar tornar a questão visível e acessível, os muralistas buscam mobilizar a população e fortalecer a consciência coletiva sobre o que ocorre hoje

Militante do MST, Igão de Nadai integra a coordenação da Jornada e explica que a iniciativa começou a partir da inquietação em relação à questão da Palestina, especialmente como uma denúncia do Estado de Israel e como um ato de solidariedade com o povo palestino e sua resistência. “É importante destacar nossa solidariedade com a resistência que ocorre lá”.

Segundo Igão, existe um movimento internacional de grafite, especialmente entre muralistas, que é muito forte em outros países, principalmente na Europa, e ele acrescentou que esse movimento é marcado por muitas denúncias contra o Estado de Israel e os acordos comerciais entre os países.

“No Brasil, esse tipo de iniciativa estava acontecendo de forma muito lenta, quase não se via esse tipo de manifestação. Então, decidimos tomar uma iniciativa local e, inicialmente, era algo pequeno, que eu e um companheiro do Rio Grande do Sul planejávamos fazer. No entanto, decidimos apostar em uma convocação nacional, chamando os artistas para se envolverem”.

Alguns artistas que não fazem parte do MST também atenderam ao chamado, especialmente em São Paulo, onde mais de 14 artistas já estão envolvidos nas atividades, com destaque às mulheres que também estão participando desse trabalho na capital. As artes na capital foram desenvolvidas na região da Avenida Paulista/Consolação, Elevado Costa e Silva/Minhocão, CDC Vento Leste, na Patriarca e no bairro do Tatuapé.

“Um dos destaques é um trabalho sendo realizado no coração de São Paulo, na empena de um prédio — aqueles murais gigantes que existem na cidade. Está sendo feita uma ocupação urbana lá, inclusive com o auxílio de um palestino. Esse processo é bastante demorado, mas será um dos grandes destaques da nossa jornada, já que a cidade é tanto um centro do sionismo, quanto um local com uma grande presença de palestinos. Esse mural estará em um espaço de muita visibilidade, aparentemente perto da Avenida Paulista”.

E este sionismo pode ser visto de perto. No primeiro domingo de agosto (4), o artista Kleber Pagu e outros artistas estavam desenvolvendo o trabalho, uma obra de quase 400 m², quando um homem invadiu o local, e além de chutar tintas e outros equipamentos, causando prejuízos materiais, também agrediu a equipe envolvida e colocou um dos artistas em risco ao puxar as cordas de segurança que o mantinham pendurado a cerca de 20 metros de altura. O MST emitiu uma nota sobre o ocorrido.

E assim, contra o ódio, foi se construindo a jornada, que mesmo terminando no dia de ontem (11), continua a ganhar os muros de todo o país, com direito a intervenção e mural até na Venezuela. “A ideia foi fazer intervenções artísticas em qualquer espaço coletivo, seja no campo, na cidade, em escolas, enfim, em qualquer tipo de espaço, como forma de denúncia e de anúncio da luta por uma Palestina livre e soberana.”

Além da capital paulista, em São Paulo também teve intervenção na cidade de São José do Rio Preto; No Piauí, no assentamento Lisboa, em São João do Piauí; No Ceará, no Centro de Formação Frei Humberto Costa, em Fortaleza; No Paraná, na Comunidade Chico Mendes, em Matelândia, e no bairro Vista Bela, Londrina; No Rio Grande do Sul, no Auditório da Associação Cultural José Marti, em Porto Alegre, e na cidade de São Gabriel; Em Sergipe, na capital Aracaju; Em Minas Gerais, no assentamento Estrela do Norte, em Montes Claros.

“Estipulamos uma semana para as ações, mas, de forma interessante, outros artistas e militantes foram aderindo ao longo desse período, se interessando pelo movimento. Como resultado, teremos trabalhos sendo realizados até a próxima semana. Decidimos não encerrar a jornada na data inicialmente estipulada, permitindo que ela continue. Até a semana que vem, já temos alguns trabalhos confirmados, inclusive um na Venezuela, que serão muito expressivos.”

Confira fotos de alguns destes murais:

*Editado por Gustavo Marinho

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Última Atualização: 12/08/2024