A cidade mexicana de Piedras Negras tornou-se um dos epicentros do fluxo migratório rumo aos Estados Unidos, onde centenas de imigrantes enfrentam barreiras quase intransponíveis para cruzar o Rio Grande, a tênue linha que separa a promessa de um futuro melhor de uma realidade dura e desoladora.
De um lado da fronteira, os Estados Unidos investem em soldados, arames farpados e muros para conter o que chamam de “invasão”. Do outro lado, a prefeitura de Piedras Negras construiu uma espécie de varanda à beira do rio, equipada com bancos que oferecem uma vista clara do território americano. O contraste, porém, é cruel.
Para os imigrantes que se sentam nos bancos dessas varandas, o sonho americano parece ao mesmo tempo próximo e inalcançável. Entre os arames farpados e o muro, o que se revela é quase uma provocação: um campo de golfe, com grama escassa em meio ao deserto, onde cidadãos americanos jogam despreocupadamente.
“Isso é uma espécie de humilhação”, desabafa um hondurenho, impedido de entrar nos Estados Unidos. “Com tanta terra, precisam jogar golfe na nossa cara?”
Além do campo de golfe, as bandeiras americanas fincadas em altura suficiente para serem vistas do outro lado da fronteira ressaltam ainda mais a separação. Símbolos de redes como McDonald’s e Burger King aparecem como lembretes das oportunidades que muitos imigrantes nunca alcançarão.
O sentimento de humilhação é uma constante na trajetória dos imigrantes. Durante os mais de 300 quilômetros que percorrem na fronteira entre o Texas e o México, o desrespeito à dignidade humana parece ser uma regra. “São humilhados pelos seus próprios governos, que os abandonam; pelos cartéis, que os exploram; e pela fronteira, onde são tratados como criminosos”, relata Jamil Chade, colunista da UOL.
Do lado mexicano, os imigrantes enfrentam abusos e condições desumanas. Do lado americano, a segurança de fronteira é prioridade, mas o tratamento desumanizador quebra os estrangeiros que buscam refúgio.
Enquanto do lado norte do Rio Grande se celebra o direito à memória coletiva e o chamado “destino manifesto”, do lado sul impera a humilhação coletiva. Para muitos, a travessia é um ato de desespero em busca de sobrevivência, mas o que encontram é o desprezo de uma sociedade que nega oportunidades e, muitas vezes, a própria humanidade.
A varanda dos sonhos em Piedras Negras não é apenas um espaço de descanso; é um cenário que expõe o abismo entre dois mundos e evidencia como a desigualdade, o abandono e a desumanização deixam marcas profundas em quem ousa sonhar com um futuro diferente.
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