A necessidade de uma frente ampla, unindo esquerda, centro e outros setores democráticos, emerge como o tema mais crucial da quinta mesa do Ciclo de Debates do PCdoB, realizada nesta segunda-feira (25), no Recife. Promovido pela Fundação Maurício Grabois, o painel reuniu lideranças políticas para discutir o tema “Conjuntura Desafiadora: as forças progressistas e democráticas, as eleições presidenciais de 2026, consensos e convergências possíveis, programa transformador e maioria social”.
As discussões visam aprofundar a Proposta de Resolução Partidária que será apresentada no 16º Congresso do partido, em Brasília, em outubro. O documento destaca a urgência de uma frente ampla para reeleger o presidente Lula e fortalecer um projeto nacional de desenvolvimento, em meio a um cenário global de crise capitalista e pressões imperialistas.
Participaram da última mesa do ciclo, a ministra de Ciência e Tecnologia e presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos; José Dirceu, ex-ministro e um dos fundadores do PT; Cida Pedrosa, vereadora do PCdoB de Recife; e o deputado federal Pedro Campos, líder do PSB na Câmara dos Deputados. O debate foi mediado por Luciano Siqueira, ex-deputado estadual e vice-prefeito do Recife.
Unidade para 2026: a frente ampla como estratégia central
Cida Pedrosa, vereadora do Recife pelo PCdoB, enfatiza a urgência de ampliar alianças para as eleições de 2026. “Não será fácil vencer. Enfrentamos uma extrema direita organizada, impulsionada pelo imperialismo americano. Precisamos de uma frente ainda maior que em 2022, dialogando com o povo nas ruas e redes”, afirma.
“Estamos numa encruzilhada histórica: soberania, democracia e bem-estar social contra o imperialismo e o neoliberalismo. A frente ampla é essencial para reeleger Lula e avançar em reformas estruturais”, destaca José Dirceu.
Luciana Santos: Lula tem tratado as ameaças de Trump com altivez
Luciana Santos, presidenta nacional do PCdoB e ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, participou virtualmente devido a compromissos em Brasília. Ela elogiou o governo Lula pela forma altiva com que tem lidado com a ameaça do imperialismo americano ao potencial brasileiro. “O Brasil está na mira por sua riqueza e liderança global. As tarifas de Trump são um exemplo de pressão para conter nosso desenvolvimento”, afirma a ministra.
José Dirceu, ícone do PT, fala da trajetória de luta dos trabalhadores no Brasil e lembra os breves períodos em que a elite nacional encampou um projeto de desenvolvimento, resultando em avanços na indústria de base, produção de aço, geração de energia e extração de petróleo. Ele lamenta que esse progresso tenha sofrido um revés com a Lava Jato, “articulada com interesses externos, que destruiu a Petrobras e nossa indústria de serviços, transferindo parte da renda do petróleo para Nova York”. Dirceu afirma ser preciso retomar a soberania financeira e tecnológica, e que o Brasil “é visto como uma ameaça aos interesses dos EUA”, que buscam evitar o surgimento de outro país desenvolvido na América do Sul.
Cida Pedrosa lembrou do risco de os Estados Unidos tramarem uma manobra para não aceitar os resultados eleitorais em 2026, caso o projeto nacional brasileiro e a reeleição de Lula saiam vitoriosos. Também a ministra Simone Tebet, do Planejamento, em sua saudação gravada aos debatedores, ressaltou o momento decisivo pelo qual passa o Brasil e a necessidade de união em defesa da democracia.
Crise do capitalismo e reforma estrutural
A crise do capitalismo, agravada desde 2008, foi identificada como o motor de desigualdades e exploração. Para Thiara Milhomem, presidente estadual do PCdoB, “vivemos uma crise tecnológica e digital que, em vez de melhorar vidas, aumenta a exploração. O Brasil precisa de reformas estruturais para superar as vulnerabilidades.” O programa do PCdoB propõe reformas urbana, agrária, educacional e tributária, com foco em um crescimento econômico soberano impulsionado pelo Estado. O deputado federal Pedro Campos também ressalta a importância da reforma tributária para “reduzir impostos sobre o consumo, que pesa mais sobre os pobres,” afirma.
Desafios eleitorais: extrema direita e sucessão bolsonarista
Campos analisa a disputa de 2026 como um embate polarizado, mas enxerga a fragilidade da extrema direita. “A inelegibilidade de Bolsonaro cria uma crise de sucessão. Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas disputam espaço, o que os enfraquece.” O peessebista destaca que o campo da extrema-direita vive um momento de confusão, sem consenso entre os nomes que se apresentam como candidatos. Dirceu, contudo, acredita que a extrema direita mantém força nas redes e nas ruas, “mas nossa vantagem é a unidade em torno de Lula.”
Guerra cultural e identidade nacional
A guerra cultural, impulsionada pelo imperialismo americano, é outro ponto crítico. “Filmes e músicas americanas constroem inimigos como China e Rússia. Precisamos fortalecer nossa identidade nacional e disputar a narrativa cultural”, afirma Cida Pedrosa. Ela alerta ainda para a manipulação de narrativas por inteligência artificial, que exigirá uma estratégia robusta de comunicação popular durante as eleições. Luciana Santos enfatiza a necessidade de um discurso acessível que conecte a luta por soberania com as dores cotidianas da classe trabalhadora, das mulheres e das minorias.
Mobilização popular e sonhos de futuro
A construção de uma maioria social é vista como essencial. Thiara Milhomem destaca que é preciso ir às ruas, dialogar com o povo e “combater a precarização do trabalho e a desigualdade de gênero e raça.” José Dirceu lembra que faz um exercício intuitivo para tentar compreender o “estado de espírito do brasileiro” e percebe uma mudança positiva no ânimo de luta dos trabalhadores, a partir das mobilizações pela justiça tributária: “a sociedade apoiou o imposto sobre os ricos.” E que, mesmo contra inimigos poderosos, “a classe trabalhadora derrotou a ditadura e já elegeu o PT cinco vezes. Essa força nos levará à vitória em 2026.” O painel reforça a importância de um projeto que inspire sonhos, como propôs Cida Pedrosa: “nosso documento deve animar o povo com um futuro de prosperidade, justiça e soberania.”
Um chamado à luta
O debate em Recife consolidou a visão do PCdoB de um Brasil soberano, democrático e voltado para o socialismo. Para Luciana Santos, a eleição de 2026 será decisiva. “Precisamos de unidade, reformas estruturais e um discurso que una o imediato ao estratégico.” O PCdoB se prepara para o 16º Congresso com um projeto claro: derrotar o neofascismo, fortalecer Lula e construir um futuro de esperança para o povo brasileiro, que é o socialismo.
Preparação para o 16º Congresso
O painel, quinto da série promovida pela Fundação Maurício Grabois, visa aprofundar o projeto de resolução para o 16º Congresso do PCdoB, que deve aprovar um programa de reformas estruturais. “Este ciclo é um esforço de diálogo com pensadores, militantes e não militantes, para construir consensos e um projeto transformador que eleve a consciência popular”, destacou Luciano Siqueira. O debate no Recife encerra a ciclo, que passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, consolidando reflexões sobre o Brasil em um mundo em transição.