Nesta terça-feira, 26 de agosto, o portal Vermelho, do PCdoB, publicou o artigo “Frente ampla por plano de desenvolvimento e soberania é chave para 2026”. A peça narra como foi a quinta mesa do Ciclo de Debates do PCdoB, promovida pela Fundação Maurício Grabois, com o tema “Conjuntura Desafiadora: as forças progressistas e democráticas, as eleições presidenciais de 2026, consensos e convergências possíveis, programa transformador e maioria social”.
O ciclo antecede e prepara as discussões da Proposta de Resolução Partidária para o 16º Congresso do PCdoB. Apesar da ofensiva imperialista em todo o mundo e dos golpes de Estado na América do Sul, os palestrantes sem exceção vislumbram um cenário otimista para as eleições no ano que vem. Para eles, existe uma grande possibilidade para amplas alianças, o que seria a repetição e intensificação do erro cometido por Lula no último pleito, causa direta de um governo em que o presidente, ao longo dos últimos três anos, permanece num quase estado de sítio dentro do próprio governo. Ignorando os últimos três anos, destaca o artigo do PCdoB:
“O documento destaca a urgência de uma frente ampla para reeleger o presidente Lula e fortalecer um projeto nacional de desenvolvimento, em meio a um cenário global de crise capitalista e pressões imperialistas.”
Ora, mas justamente o que impediu a implementação do projeto de desenvolvimento pretendido por Lula foi a frente ampla dentro do governo, como pressão interna, e o imperialismo, como pressão externa ao governo Lula. Assim, tanto o Banco Central permanece com uma política aberta de sabotagem à economia nacional como um todo, como o petróleo brasileiro permanece fora das mãos da Petrobrás, que continua sendo sabotada, a exemplo do caso da Margem Equatorial. Os próprios ministérios do governo, em função da frente ampla, sabotam o governo de maneira escancarada, e sem consequências. Em grande medida, isso ocorre pela falta de mobilização das próprias bases sociais de Lula e do Partido dos Trabalhadores, o que, além do segundo turno das eleições de 2022, não ocorreu. Assim, a proposta do PCdoB não coloca em questão as pressões imperialistas, mas coloca como necessária uma maior capitulação frente a essas pressões.
É importante destacar que, quando falam em frente ampla, esses setores da esquerda estão se referindo ao abandono de um programa político em nome da realização de alianças pontuais que supostamente trariam um ganho necessário e mais imediato. A frente ampla é uma suposta aliança, dito mais claramente, com a burguesia, ou setores da burguesia, supostamente contra outros setores da burguesia. Assim, quando apreciamos a série de colocações de figuras destacadas que se pronunciaram no evento, é preciso interpretá-las nesse sentido. Cida Pedrosa, vereadora do Recife pelo PCdoB, afirmou que:
“Não será fácil vencer. Enfrentamos uma extrema direita organizada, impulsionada pelo imperialismo americano. Precisamos de uma frente ainda maior que em 2022, dialogando com o povo nas ruas e redes.”
Ou seja: fomos à direita nas últimas eleições, mas agora, é preciso ir ainda mais à direita. E por que a interpretação correta é essa? Porque Lula representa um programa popular. Para “dialogar com povo nas ruas” não é preciso que ele “amplie” seu espectro político, mas que se debruce sobre o próprio programa que representa para os trabalhadores, com o incentivo ao setor produtivo nacional através da baixa no juros, através da reforma agrária, do aumento do salário mínimo, da exploração do petróleo sob a Petrobrás, e ela com uma forte política de investimentos, em detrimento dos acionistas, etc. A chamada “ampliação”, com a incorporação de elementos como Geraldo Alckmin, Simone Tebet, Marina Silva, etc., trabalha contra esse projeto de governo. A incorporação de ainda mais setores do tipo, na realidade, inevitavelmente afastará Lula dos trabalhadores ainda mais do que já vem ocorrendo ao longo deste governo. Em sentido semelhante, destacou José Dirceu:
“Estamos numa encruzilhada histórica: soberania, democracia e bem-estar social contra o imperialismo e o neoliberalismo. A frente ampla é essencial para reeleger Lula e avançar em reformas estruturais.”
Dirceu, apesar de denunciar o neoliberalismo, chama novamente à frente ampla, ou seja, à frente com os setores “democráticos”, e neoliberais. A frente necessária para enfrentar o neoliberalismo só pode ocorrer retirando de seu seio os setores “amplos” e incorporando a ele os trabalhadores, as amplas massas, que só se mobilizam em torno de seus interesses concretos. Portanto, para enfrentar o neoliberalismo, seria preciso uma frente de esquerda, incorporando os setores que se opõem ao neoliberalismo, e retirando os sabotadores do interior da frente.
Trata-se, no caso, de uma ampla farsa oportunista. As colocações em torno de objetivos como “contra o imperialismo”, têm valor meramente de fala pública, sem qualquer significado efetivo. Os chamados se destinam apenas e somente a uma busca desesperada pela vitória eleitoral, a qualquer custo, com o abandono de quantas demandas populares for necessário. Assim, é uma política contra os interesses do povo e dos trabalhadores e, como demonstrado no primeiro turno das eleições de 2022, uma política fracassada, que ruma para a derrota na eleição. Não à toa, naquele ano, o segundo turno de Lula viu um giro de 180 graus à esquerda, incorporando o vermelho, o contato com os trabalhadores, retirando dos palanques os políticos vigaristas da direita (leia-se da frente ampla). Continuando:
“Luciana Santos, presidenta nacional do PCdoB e ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação […] elogiou o governo Lula pela forma altiva com que tem lidado com a ameaça do imperialismo americano ao potencial brasileiro.”
Ora, e como tem lidado o governo Lula? Não reconhecendo as eleições na Venezuela? Bloqueando o país de se incorporar aos BRICS? Sediando o encontro mais murcho do bloco em toda a sua história, num momento em que ele teria um papel decisivo na política global? Abrindo espaço para a prisão de lideranças de países amigos em território nacional, como de Vladimir Putin? Exportando petróleo para “Israel”? A altivez do governo Lula frente ao imperialismo não supera em grande coisa a altivez de um verdadeiro capacho, e é assim pela decisão de lideranças como as que falaram no evento do PCdoB. Não satisfeitos em enterrar o governo, agora, o objetivo é a derrota total nas eleições de 2026. E a farsa seguiu:
“José Dirceu, ícone do PT, fala da trajetória de luta dos trabalhadores no Brasil e lembra os breves períodos em que a elite nacional encampou um projeto de desenvolvimento, resultando em avanços na indústria de base, produção de aço, geração de energia e extração de petróleo. Ele lamenta que esse progresso tenha sofrido um revés com a Lava Jato”.
É interessante que não se falou nos apoiadores da Lava Jato, ou nos setores que se beneficiaram do golpe de 2016, hoje inseridos no governo Lula em nome da frente ampla. Segundo relatado no artigo, Dirceu teria ainda se esquecido de mencionar os períodos de Fernando Collor e FHC, os anos de neoliberalismo, que tem em um de seus maiores expoentes no Brasil, Geraldo Alckmin, o atual vice-presidente de Lula! O artigo ressalta que:
“O programa do PCdoB propõe reformas urbana, agrária, educacional e tributária, com foco em um crescimento econômico soberano impulsionado pelo Estado.”
Mas, naturalmente, com a política da frente ampla, esse programa não é mais que letra morta, e tão mais morta será quanto mais avance a política concretamente defendida pelo PCdoB, a frente ampla.