
A Polícia Federal (PF) identificou transações financeiras atípicas dos advogados Nelson Wilians e Willer Tomaz, além do empresário Paulo Octávio, durante a investigação sobre fraudes em descontos de aposentadorias do INSS.
As movimentações constam em relatórios produzidos a partir de dados enviados ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), mas a PF não atribui suspeitas diretas a essas pessoas nem as relaciona formalmente ao caso.
Esses documentos, tornados públicos após o levantamento parcial de sigilo no fim de abril, incluem informações fiscais e bancárias de diversas pessoas físicas e jurídicas.
Em cerca de 400 páginas, a PF analisou RIFs (Relatórios de Inteligência Financeira) que apontam movimentações de R$ 4,6 bilhões entre 2019 e 2024 envolvendo o escritório de advocacia e uma empresa de investimentos do bolsonarista Nelson Wilians. Parte desse valor se refere a créditos e outra parte a débitos, mas os investigadores não associam as cifras à fraude no INSS.
Os dados de Nelson Wilians, que gosta de ostentar luxo nas redes sociais, aparecem nos mesmos relatórios que mencionam o empresário Maurício Camisotti, apontado pela PF como possível “beneficiário final dos esquemas fraudulentos de descontos indevidos”. Em 2024, foi divulgado que Wilians teria feito pagamentos de R$ 15,5 milhões a Camisotti.

Em nota, a assessoria de Wilians declarou que ele e seu escritório não são alvos da investigação e que os valores pagos se referem a uma “transação de natureza privada”.
Camisotti também afirmou que os negócios com o advogado são “de caráter privado, legítimo, estão documentados e consistem em empréstimos pessoais e a compra de um imóvel”, negando qualquer ligação com fraudes no INSS.
Willer Tomaz
No caso de Willer Tomaz, a PF apontou movimentações de R$ 45,5 milhões entre maio e novembro de 2021, divididas entre entradas e saídas.
O advogado, conhecido por sua proximidade com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), também é citado por um pagamento de R$ 120 mil a Milton Salvador de Almeida Júnior, um dos investigados e, atualmente, diretor de empresas ligadas a Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, considerado o “epicentro” do esquema.

Apesar disso, o relatório afirma que “tais comunicações [entre Willer Tomaz e Milton Salvador] não forneceram relacionamentos ou informações relevantes para a presente investigação”.
Willer Tomaz negou envolvimento com as fraudes e afirmou que “todas as suas movimentações financeiras são lícitas e declaradas”. Segundo ele, os pagamentos foram feitos por serviços de auditoria financeira, “anos antes da apuração do suposto envolvimento de Milton Salvador com o principal alvo da operação”.
Ainda de acordo com Tomaz, “qualquer tentativa de associar uma prestação pontual de serviço profissional a fatos posteriores é totalmente absurda e desprovida de qualquer fundamento”.
A apuração
O Coaf elabora os RIFs a partir de comunicações obrigatórias enviadas por bancos, corretoras, cartórios, joalherias e outros setores sobre movimentações suspeitas ou de valor elevado, como transações acima de R$ 100 mil em espécie, mesmo que fracionadas.
Essas operações não significam, necessariamente, irregularidades, mas podem ser encaminhadas para investigações.
Na apuração sobre o INSS, o foco da PF é identificar conexões entre essas movimentações e desvios em aposentadorias. A investigação revelou que integrantes da cúpula do INSS receberam pagamentos de associações conveniadas ao instituto, responsáveis por descontar mensalidades diretamente dos benefícios dos aposentados.