A França, sede da Olimpíada, viola os direitos humanos?
por Luís Carlos Silva
Na grande imprensa brasileira, quando um país que não pertence à chamada “civilização ocidental” é sede de uma Olimpíada ou Copa do Mundo, geralmente é ecoado o discurso sobre “violação dos direitos humanos”. Foi assim com a China, durante a Olimpíada de 2008; e com Rússia e Catar, respectivamente, sedes das copas de 2018 e 2022.
Evidentemente, os três países, como qualquer outro, apresentam aspectos controversos. No entanto, a narrativa midiática seria válida se também fosse aplicada a um grande evento esportivo realizado em uma nação ocidental. Nesse sentido, será que vamos presenciar algum tipo de editorial sobre “violação dos direitos humanos na França”, sede dos Jogos Olímpicos de 2024.
Historicamente, a França foi uma potência colonial e escravista, o que já é suficiente para ter promovido mais violações de direitos humanos do que China, Rússia e Catar juntos.
Mesmo no atual contexto, Paris mantém um domínio econômico, militar e comercial sobre suas ex-colônias africanas (que, não por acaso, nos últimos anos, têm promovido golpes de Estado de caráter nacionalista e anti-imperialista). Também não podemos nos esquecer do apoio do governo de Emmanuel Macron ao genocídio do povo palestino promovido pelo Estado de Israel.
No cenário interno, a situação não é diferente. “Liberté, Égalité, Fraternité” somente para “nossos pares”. Na “Pátria dos direitos humanos”, imigrantes são constantemente vítimas de preconceito, o hijab é proibido em determinados espaços e manifestações pró-Palestina são violentamente reprimidas pela polícia.
Para terminar este breve texto, é importante lembrar que a principal sede da próxima Copa do Mundo, em 2026, será os Estados Unidos, com seu histórico de sanções econômicas, sabotagens, assassinatos de presidentes, golpes de Estado mundo afora, espionagem, bombas atômicas, guerras, invasões e violência policial contra negros.
Será que veremos nos noticiários algo sobre violação de direitos humanos nos Estados Unidos?
Duvido, mas vamos aguardar!
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Luís Carlos Silva é doutorando em Geografia pela Unicamp
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