O presidente da França, Emmanuel Macron, endureceu o tom nesta quinta-feira (18) contra a ratificação do acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul. Durante reunião de cúpula em Bruxelas, o líder francês condicionou o apoio do país à criação de proteções adicionais aos produtores rurais europeus e afirmou que Paris se oporá a qualquer “tentativa de forçar” a adoção do tratado.
“Quero dizer aos nossos agricultores, que manifestam claramente a posição francesa desde o início: consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado“, declarou Macron. O movimento ocorre às vésperas da cúpula de chefes de Estado do Mercosul em Foz do Iguaçu, onde a assinatura do texto final está prevista para o próximo sábado (20).
Resistência no campo
A principal barreira francesa reside na pressão do setor agrícola, que vê na abertura comercial um risco de concorrência desleal. Agricultores europeus argumentam que os produtores latino-americanos estão sujeitos a normas ambientais e sanitárias menos rigorosas.
Na tentativa de mitigar o impasse, o Parlamento Europeu aprovou, na última terça-feira (16), mecanismos de monitoramento para setores sensíveis como carne bovina, aves e açúcar. As medidas preveem a aplicação de tarifas automáticas caso o volume de importações isentas de impostos suba mais de 5% ou se o preço do produto importado ficar 5% abaixo da média europeia. Para o governo francês, contudo, as garantias oferecidas pela Comissão Europeia ainda são insuficientes para proteger o mercado interno.
Balança
A viabilidade do acordo agora depende de um cálculo político complexo no Conselho Europeu. Para ser aprovado, o tratado exige maioria qualificada: o voto favorável de 15 dos 27 países membros, que somem ao menos 65% da população do bloco.
Neste cenário, a Itália emergiu como a peça-chave. Se Roma decidir se alinhar a Paris e Varsóvia, o grupo dissidente alcançaria mais de 35% da população da UE, formando uma minoria de bloqueio capaz de paralisar o processo.
Além do agronegócio
Apesar do foco midiático nas disputas agrícolas, o tratado abrange uma vasta gama de setores, incluindo serviços, propriedade intelectual e indústria de transformação. Esse escopo amplo justifica o apoio de países como Alemanha, Espanha e Portugal, que enxergam no Mercosul um mercado estratégico para exportação de tecnologia e manufaturados.