Tudo indicava que 25 de março de 2025 seria o dia do velório político de Jair Bolsonaro (PL). É nessa data que o Supremo Tribunal Federal (STF) começa a julgar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente e outros sete envolvidos na tentativa de golpe de Estado.

Mas o fracasso do ato bolsonarista realizado neste domingo (16), em Copacabana, no Rio de Janeiro, antecipou a cerimônia fúnebre. Com exceção do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) – a quem Bolsonaro parece ter ungido como seu sucessor nas urnas –, nenhum representante da extrema direita se beneficiou diante de uma manifestação tão malfadada.

Temendo que o pior ocorresse, os organizadores remodelaram o ato nas últimas semanas, concentrando a mobilização numa única cidade e reduzindo as pautas. Uma das propostas rifadas foi a de um pedido de impeachment do presidente Lula (PT). Coube a Tarcísio, por sinal, as críticas de viés mais político ao governo federal.

Os pastores Silas Malafaia e Magno Malta ficaram encarregados de disparar torpedos contra o Judiciário. Malafaia acusou a existência de um “alexandrismo” – referência a um suposto aparelhamento do STF pelo ministro Alexandre de Moraes. Malta, por sua vez, chamou mais a atenção por estar com a voz visivelmente alterada, sabe-se lá por quê.

Bolsonaro falou do futuro. Ciente de que não tem chance de escapar de uma condenação que o levará à prisão e a um possível isolamento, disse pela primeira vez que não fugirá do Brasil. Reforçou que a mãe de todas as batalhas da extrema direita hoje é pela anistia aos envolvidos no levante golpista de 8 de Janeiro. O ex-presidente não admitiu explicitamente, mas demonstrou estar em compasso de espera, uma vez que deve se tornar réu já na próxima semana.

Dirigentes de partidos da direita ou do Centrão se ausentaram. Governadores cotados para disputar a sucessão de Lula em 2026, como Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Ratinho Júnior (PSD-PR), também ficaram distantes do palco. Para quem precisa desesperadamente de apoios partidários no Congresso a fim de aprovar a anistia, o sinal foi desolador.

Não bastasse a corrida contra o relógio e o isolamento político, o bolsonarismo enfrenta as dores do encolhimento. Era improvável que a manifestação em Copacabana reunisse 1 milhão de pessoas. Se mobilizasse a metade disso, já seria um feito. Mas o que se viu nas imagens aéreas foi um esvaziamento inequívoco e agudo na comparação com os atos anteriores.

Três estimativas técnicas dão conta de que o público no Rio sequer chegou perto dos seis dígitos. Segundo o “Monitor do Debate Político” do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), ligado à USP (Universidade de São Paulo), eram 18,3 mil manifestantes. O instituto Datafolha contabilizou 30 mil presentes, e o Poder360, 26 mil.

Seja qual for a referência, o viés é de queda. Nas contas do Cebrap – que fez levantamentos em outros atos golpistas realizados em Copacabana –, Bolsonaro juntou 64,6 mil apoiadores em 7 de setembro de 2022 e 32,7 mil em 21 de abril de 2024.

Além do noticiário cada vez mais negativo para o ex-presidente, outro fator contribuiu para recuou nas ruas: a impopularidade da reivindicação central do ato. Conforme pesquisa Datafolha divulgada em dezembro, 62% dos brasileiros são contrários à anistia para quem participou do 8 de Janeiro. Como convencer os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado a pautarem uma proposta tão indigesta?

Em seu discurso, Bolsonaro afirmou que, “preso ou morto”, será um “problema” permanente para o STF. Mas o próprio ato em Copacabana mostrou outro lado: mesmo que a prisão não decrete necessariamente a morte política do ex-presidente, o bolsonarismo está às voltas com uma crise crescente. Que se acendam as velas do velório!

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Last Update: 17/03/2025