O líder histórico da extrema-direita francesa, Jean-Marie Le Pen, foi sepultado neste sábado 11 sob fortes medidas de segurança, depois que sua morte expôs a divisão que gera na França.

As autoridades reforçaram a segurança em La Trinité sur Mer, localidade natal de Le Pen, no oeste da França, onde foi enterrado, depois de centenas de opositores saírem às ruas em Paris e outras cidades do país para comemorar sua morte, ocorrida na terça-feira 7.

Nessas concentrações festivas espontâneas, os manifestantes lançaram fogos para expressar sua reprovação ao político, conhecido por seus comentários xenofóbicos e antissemitas. Manifestações de júbilo que o governo francês tachou de “vergonhosas”.

Pessoas se reúnem na Place de la Republique após a morte de Jean-Marie Le Pen, em ato organizado pelo Novo Partido Anticapitalista no centro de Paris, em 7 de janeiro de 2025. Foto: Dimitar DILKOFF/AFP

Pascal Bolot, prefeito do departamento de Morbihan, onde fica a pequena localidade de La Trinité sur Mer, às margens do Atlântico, emitiu na sexta-feira 10 uma ordem para proibir as manifestações na localidade.

Bolot argumentou que “a personalidade política” de Le Pen ” é “suscetível de atrair uma grande multidão, tanto de apoiadores quanto possivelmente de opositores, à margem da cerimônia religiosa e do enterro”.

O funeral privado aconteceu neste sábado pela tarde, na presença de sua filha Marine Le Pen, que assumiu o bastão do pai no comando do partido Frente Nacional (FN) e depois o renomeou como Reagrupamento Nacional (RN), e de outros membros da família e de seu círculo político mais íntimo.

Marine e uma de suas duas irmãs, Marie-Caroline, percorreram algumas centenas de metros da casa da família até a igreja de São José diante de uma pequena multidão de curiosos e dezenas de jornalistas.

Cerca de 200 pessoas assistiram à missa e, ao final da cerimônia, Marine parecia chorosa.

Centenas de pessoas participaram da procissão até o cemitério, que terminou com aplausos de homenagem.

No município, de aproximadamente 1.700 habitantes, foi destacado um contingente adicional de efetivos de segurança para evitar manifestações contrárias, mas a jornada transcorreu sem incidentes.

Nascido em 20 de junho de 1928, Jean-Marie Le Pen participou das guerras coloniais francesas de Argélia, onde foi acusado de tortura — o que nega —, e Vietnã.

Fundou o FN em 1972, mas o ápice de sua carreira foi em 2002, quando aos 73 anos chegou ao segundo turno da eleição presidencial, que perdeu para o conservador Jacques Chirac após maciça mobilização contrária.

Embora tenha fracassado em até cinco ocasiões, conseguiu instalar a extrema-direita no panorama político da França e, em 2011, cedeu as rédeas do partido a sua filha Marine Le Pen.

Marine se esforçou para moderar a imagem do partido de extrema-direita e conseguiu se impor como figura política central. Em 2017 e 2022, chegou ao segundo turno em ambas as eleições presidenciais, vencidas por Emmanuel Macron.

No entanto, as relações entre pai e filha tiveram muitos altos e baixos. Em 2015, Marine o expulsou do partido depois que ele considerou que o Holocausto foi um “detalhe” da História na Segunda Guerra Mundial.

À época, Jean-Marie Le Pen refugiou-se nas suas Memórias, onde retomou seus temas favoritos como a teoria conspiratória da “grande substituição” da população francesa pela imigração.

Cumprindo com o seu desejo, o político foi enterrado no mausoléu onde repousam seus pais, perto da residência familiar.

Para a quinta-feira 16 está prevista uma cerimônia de despedida a Le Pen, aberta ao público, em uma igreja de Paris.

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Last Update: 11/01/2025