O novo filme da Fórmula 1 estrelado por Brad Pitt chega com uma proposta que lembra de imediato Top Gun: Maverick: uma narrativa simples, moral clara, personagens carismáticos e um apelo universal. Não há pretensão de reinventar o gênero esportivo, nem de carregar o roteiro com debates identitários ou filosofias complicadas. É Hollywood fazendo aquilo que sabe melhor — contar uma história direta, construída para emocionar, entre o drama pessoal e o espetáculo da velocidade.

Essa simplicidade, longe de ser um defeito, é um mérito. O cinema americano sempre soube que narrativas lineares e personagens bem delineados são capazes de gerar identificação rápida com o público. Quando abre mão de discursos excessivos e se concentra em emoção e ação, Hollywood alcança tanto as plateias que buscam entretenimento imediato quanto os espectadores que desejam inspiração. O filme de Brad Pitt, nesse sentido, aposta na clareza: coloca o automobilismo como metáfora da luta pela glória e pela vida, com erros, conquistas, derrotas e redenções.Hollywood simples, mas eficaz

O coração do filme está em sua proximidade com Top Gun: Maverick. Assim como no longa estrelado por Tom Cruise, temos aqui a figura do veterano que retorna, carregado de memórias de uma era de ouro, para enfrentar um novo desafio e, ao mesmo tempo, servir de guia a uma geração mais jovem. A lógica é a mesma: trazer de volta o espírito de uma época em que heróis erravam, planejavam estratégias mirabolantes, desafiavam limites e viviam a vida de forma grandiosa.

Essa escolha narrativa é reveladora. Ela mostra que Hollywood, quando não tenta inventar discursos identitários forçados nem carregar no moralismo superficial, consegue produzir obras que agradam ao público de forma espontânea. O filme não ignora lições de moral — elas estão presentes, como em qualquer história de superação —, mas são transmitidas por meio da trajetória dos personagens e não de sermões explícitos. É o cinema voltando a confiar na força do enredo e na universalidade das emoções humanas.

Ao mesmo tempo, essa simplicidade se converte em estratégia de mercado. Ao invés de apostar em nichos, o longa busca o máximo de identificação possível, explorando arquétipos clássicos: o herói que retorna, o aprendiz em ascensão, a pista como campo de batalha e o risco constante como metáfora da vida. É entretenimento que não se desculpa por ser entretenimento — e por isso funciona.

A Fórmula 1 e sua nostalgia necessária

Mas se Hollywood acerta ao construir uma narrativa direta, o filme também expõe uma contradição fundamental da Fórmula 1 contemporânea. Hoje, a categoria vive talvez seu melhor momento: transmissões de altíssima qualidade, tecnologia de ponta, carros belos e velozes, pilotos carismáticos e disputas intensas entre equipes competitivas. Nunca a Fórmula 1 esteve tão globalizada e acessível, especialmente com a popularização do Drive to Survive na Netflix.

No entanto, quando se trata de criar uma história para o cinema, a F1 ainda precisa recorrer à sua “era de ouro”: os anos de Senna, Prost, Piquet, Mansell, e mesmo o período de Niki Lauda e James Hunt. O filme de Brad Pitt, ao inventar um personagem veterano que retorna às pistas, ecoa diretamente essa tradição. É a nostalgia do piloto que não se define apenas por contratos milionários ou redes sociais, mas pela coragem de arriscar, pela ousadia de viver intensamente, pelo brilho de conquistar dentro e fora das pistas.

Essa escolha narrativa revela um limite: por mais emocionante que a Fórmula 1 atual seja tecnicamente, ela carece de personagens capazes de gerar a mesma aura de mito que os campeões do passado. O cinema, que precisa de drama e de arquétipos fortes, acaba “mentindo” sobre o presente da categoria para transformá-la em espetáculo cinematográfico. Não é que hoje falte emoção nas pistas, mas falta a narrativa épica, o personagem maior que a vida, que Hollywood resgata ao criar figuras inspiradas no passado.

Vale a pena?

Sim. O filme com Brad Pitt é uma prova de que Hollywood, quando aposta no simples, pode ser ao mesmo tempo popular e relevante. É um longa divertido, emocionante e capaz de capturar tanto fãs de automobilismo quanto espectadores ocasionais. Porém, ao mesmo tempo, funciona como crítica indireta: a própria Fórmula 1, em seu auge esportivo e técnico, ainda precisa da nostalgia da “era dos heróis” para soar cinematográfica.

Em outras palavras, o filme diverte porque inventa o que falta hoje: personagens que erram, ousam, seduzem e transformam o automobilismo em grande aventura. Nas pistas e nos bastidores reais, o espetáculo é outro — mais corporativo, mais controlado, menos mítico. O cinema devolve à Fórmula 1 aquilo que ela perdeu: a aura romântica do perigo e da glória.

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Last Update: 05/09/2025