Em julho de 2023, aconteceu o 48º Acampamento de Férias da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR) em São Paulo, no sítio Pé do Pico, onde a mais tradicional atividade de formação política do País que contou com a participação de índios Guarani-Caiouá, vindos diretamente de Dourados, Mato Grosso do Sul. Uma reportagem da época mostra como os índios participam ativamente do programa de formação, colhendo experiências positivas, unindo a luta pela terra à conscientização política necessária para a emancipação dos povos oprimidos.
Na ocasião, a equipe de reportagens do Diário Causa Operária (DCO) entrevistou Valderi, um dos índios Guarani-Caiouá presentes no Acampamento. Ele descreveu a viagem de Dourados a São Paulo como “muito produtiva”, destacando o apoio do Partido da Causa Operária (PCO) para a vinda dos participantes, resultado de uma campanha que também auxiliou nove companheiros presos no início do ano. Valderi expressou a satisfação de seu povo com a recepção e com o curso de preparação política, afirmando que “minha gente está satisfeita”.
Sobre o curso, Valderi ressaltou a importância de tirar todas as dúvidas. “Temos que tirar todas as nossas dúvidas. Se chegamos com dúvidas a gente tem que voltar sem as dúvidas, temos que perguntar, questionar. Temos que buscar a realidade prática, como foi dito no curso”, disse. Ele exemplificou a desigualdade, comparando a vida dos parlamentares com a pobreza do povo.
“Podemos ver que a desigualdade está generalizada e começa pelos próprios parlamentares. Porque é que eles comem bem, eles almoçam, jantam enquanto nós, na pobreza, não comemos e nem almoçamos às vezes. Eles dormem bem enquanto outros não dormem, moram em casa boa enquanto nós no barraco”. Valderi concluiu: “Nós aprendemos muita coisa e isso vamos levar para o resto da vida. Temos que sempre procurar melhorar”.
Questionado sobre melhorias após a posse do atual governo, Valderi afirmou que “progressivamente, sim, aconteceram algumas melhoras. Não tem do que reclamar porque o governo que estava antes dele era completamente desfavorável a qualquer benefício a favor do mundo indígena”. Ele adicionou: “Já o governo que está hoje pelo menos demonstra muita força de boa vontade de ajudar o povo indígena, então isso já é um grande passo para gente”. Para o índio Guarani-Caiouá, a melhoria completa só virá “com a demarcação de terra e acabar os conflitos. Isso ainda não aconteceu, mas está a caminho”.
Sobre o Ministério dos Povos Índios, Valderi expressou uma perspectiva cautelosa. “O Ministério dos Povos Indígenas, a meu ver, é mais uma política criada que a gente não pode colocar 100% da esperança”, disse ele. Para o líder, é preciso “apoiar, dar força, incentivar os nossos patrícios a se envolver na política, no tipo de organização social do ‘não-índio’”. No entanto, ele ressaltou que “no fim, não temos garantia de nada enquanto não vermos na prática as coisas acontecendo”.
A participação dos índios em programas de formação política como o Acampamento de Férias é crucial para fortalecer a luta pela demarcação de terras e pela autodeterminação. O próximo Acampamento de Férias começa neste sábado (6), e os índios são chamados a se inscreverem novamente para continuar a colher experiências positivas e fortalecer a resistência contra a ditadura imperialista que esmaga os povos camponeses e trabalhadores.