Formação dos solos, por Heraldo Campos

Formação dos solos

por Heraldo Campos

Os solos representam um dos principais objetos de trabalho das áreas da Geologia Aplicada ao Meio Ambiente [1] e da Geologia de Engenharia [2], uma vez que os processos do meio físico (erosão, escorregamentos, assoreamento, contaminação, colapsos e subsidências, recalques, etc.) ocorrem predominantemente no solo e por ele são condicionados.

Os solos são produtos da interação rocha/relevo/clima e, portanto, sintetizam as principais características destes elementos. Assim, conhecendo o solo pode-se inferir sobre o material de origem (rocha-mãe), a forma do relevo, a declividade, o sistema de drenagem, o comportamento hídrico e a suscetibilidade aos processos do meio físico.

O solo, dependendo dos objetivos e enfoques científicos, tem sido interpretado de maneira diversa, ou seja, produto do intemperismo físico e químico das rochas (Geologia); material escavável, que perde sua resistência quando em contato com a água (Engenharia Civil) e como camada superficial de terra arável, possuidora de vida microbiana (Agronomia). Desse modo, pode-se dizer, que os conceitos de solos que têm sido mais usados em Geologia de Engenharia, por exemplo, provêm da Geologia e da Engenharia.

Porém, com o advento da Pedologia ou Edafologia – ciência que estuda o solo – fundamentada inicialmente na Rússia por Dokuchaiev, em 1880 – o solo passou a ser entendido como uma camada viva que recobre a superfície da Terra, em evolução permanente, por meio da alteração das rochas e de processos pedogenéticos, comandados por agentes físicos, químicos e biológicos.

Estudos sobre solos demonstram que sua origem e evolução sofrem a influência de quatro fatores principais: clima, condicionando principalmente a ação da água da chuva e da temperatura; materiais de origem (rochas), condicionando a circulação interna da água e a composição e conteúdo mineral; organismos, vegetais e animais, interferindo no microclima, formando elementos orgânicos e minerais, modificando as características físicas e químicas e o relevo, interferindo na dinâmica da água, no microclima e nos processos de erosão e sedimentação.

No que diz respeito a sua localização, o solo pode ser residual ou autóctone, quando é formado no local, diretamente da desagregação da rocha subjacente ao perfil do solo ou transportado ou alóctone quando, dependendo do agente responsável pelo transporte dos materiais resultantes do intemperismo, pode receber as seguintes classificações, de acordo com o tipo da ação geradora na sua formação: coluvionar (ação da gravidade),  aluvionar (ação de águas superficiais),  glacial (ação de geleiras) e eólico (ação do vento).

Muitas propriedades físicas e químicas do solo são determinadas pelo conteúdo mineral das rochas. Rochas compostas por minerais ricos em sílica como, por exemplo, o quartzo, produzem solos de textura arenosa, enquanto aquelas com significativa porcentagem de minerais ferromagnesianos (biotita, olivina, piroxênios) e feldspatos, oferecem condições para o desenvolvimento de solos argilosos.

O fator climático atua diretamente na formação do solo, por meio da alteração dos minerais do substrato ou, indiretamente, por meio da vegetação. De um modo geral, os aspectos climáticos mais importantes no desenvolvimento pedogenético são representados pela temperatura e precipitação pluviométrica. Com o aumento da temperatura, torna-se maior a profundidade do terreno submetido à alteração física e química. Consequentemente, mantidas as condições pluviométricas, as regiões de clima temperado apresentam solos substancialmente menos profundos que as regiões tropicais, onde é comum encontrar solos com vários metros de profundidade.

O tempo necessário para que um solo atinja determinado estágio evolutivo depende da influência dos demais fatores relacionados à sua formação. As regiões de clima quente e úmido e com densa cobertura vegetal desenvolvem o solo em menor período de tempo que as regiões de clima seco, com vegetação mais escassa.

A influência do relevo na formação do solo manifesta-se, fundamentalmente, pela sua interferência na dinâmica da água e nos processos de erosão e sedimentação. Assim, áreas com relevo pouco movimentado (topografia suave) e com materiais (solos e/ou rochas) permeáveis, facilitam a infiltração das águas pluviais, superando as taxas de escoamento superficial e subsuperficial. Neste caso, os processos pedogenéticos atuam com maior vigor em profundidade, alterando as rochas e removendo, com relativa facilidade, os elementos químicos solúveis. As perdas do solo por erosão são menos significativas e tendem a ser profundos e muito lixiviados.

Em tempo: vimos que enquanto o solo leva anos e anos para se formar, o Congresso Nacional destroi tudo em minutos como recentemente com a ação dos seus parlamentares que provocou a derrubada dos vetos do Presidente Lula na nova Lei do Licenciamento Ambiental, também conhecida como PL da Devastação. Já foi dito por John Lennon “Todos nós queremos mudar o mundo, mas quando você fala em destruição você já sabe que não pode contar comigo.”

Fontes consultadas no apoio para elaboração do presente texto:

[1] ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia) & IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). 1995. Geologia Aplicada ao Meio Ambiente. São Paulo, ABGE & IPT, Série Meio Ambiente, 247p.

[2] OLIVEIRA, A. M. S. & BRITO, S. N. A. (Organizadores). 1998. Geologia de Engenharia. São Paulo, ABGE, 586p.

Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).

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