Neste domingo (27), o jornal golpista Folha de S.Paulo publicou a tradução de um artigo criminoso escrito por Ross Douthat, colunista do jornal norte-americano The New York Times. O texto, intitulado Como a guerra de Israel se tornou injusta, é uma defesa aberta do genocídio na Faixa, ainda que reflita a situação de crise na qual o sionismo se encontra.
O artigo começa com um cinismo inacreditável:
“A guerra de Israel em Gaza não é um genocídio. É uma guerra por uma causa justa: a eliminação de uma organização terrorista cruel, fanática e potencialmente genocida que oprime seu próprio povo, mantém reféns inocentes e representará um grave perigo para o Estado de Israel enquanto estiver no poder.”
Primeiramente, genocídio não tem a ver com causa “justa” ou “injusta”. “Genocídio” é uma palavra formada pelo prefixo grego genos, que significa raça ou tribo, e pelo sufixo latino cide, que significa matar. Grosso modo, é o extermínio de um povo. A Organização das Nações Unidas (ONU), por sua vez, estabeleceu um conceito jurídico de genocídio, que seria promover “qualquer um dos seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal: assassinato de membros do grupo; causação de danos graves à integridade física ou mental de membros do grupo; submissão intencional do grupo a condições de existência que levem à sua destruição física total ou parcial; imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos dentro do grupo; transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo”.
“Israel” pratica todos os crimes descritos e muitos outros. Poderíamos ainda acrescentar o assassinato por fome, o apartheid social, a destruição de hospitais etc.
Começar um texto dizendo que isso não é genocídio não cumpre outro papel a não ser defender o genocídio em curso.
Após o cinismo, a mentira. A guerra de “Israel” não é contra uma única organização, mas contra o conjunto do povo palestino. É um processo de limpeza étnica que vem sendo conduzido ininterruptamente há quase um século.
Centenas de organizações surgiram como resultado da resistência palestina a esse processo. Hoje, dezenas delas lutam contra “Israel”, e nenhuma delas pode ser considerada “terrorista cruel, fanática e potencialmente genocida”. O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), a Jiade Islâmica e demais grupos são movimentos que lutam pela libertação nacional de seu povo, com um programa político muito bem definido: o fim da ocupação ilegal e criminosa.
Ainda que fossem organizações “fanáticas” — o que não são —, o fato de serem organizações do povo palestino lutando contra uma ocupação criminosa justificaria quaisquer de suas ações. Afinal, a violência do oprimido é o resultado inevitável da violência do opressor.
No parágrafo seguinte, o articulista aprofunda seu apoio à política criminosa do sionismo:
“O devastador número de vítimas civis da guerra está inextricavelmente ligado à recusa desse governo terrorista em obedecer às leis da guerra, sua relutância em se render — não importa quanto seu próprio povo sofra —, sua disposição em aceitar a fome em vez de abrir mão do controle da ajuda humanitária, sua inclinação em deixar as negociações de cessar-fogo se prolongarem indefinidamente, na aparente esperança de que a pressão internacional o salve da derrota.”
Deixando de lado as mentiras sobre a relação do Hamas com as massas palestinas, poderíamos resumir a ideia do autor da seguinte forma: como “Israel” não gosta do governo da Faixa de Gaza, está justificado assassinar a sua população civil. É um pensamento verdadeiramente criminoso, que reflete as ações do imperialismo ao longo dos últimos 100 anos.
Obviamente, o problema de “Israel” com o governo do Hamas sobre a Faixa de Gaza diz respeito aos interesses políticos e econômicos da entidade sionista. “Israel” não tolera o governo palestino porque ele é um entrave à sua política de limpeza étnica da Faixa de Gaza. Ter um povo armado que luta por sua liberdade é um entrave à política colonial sionista.
Depois de defender os crimes de guerra, o autor aparece com uma suposta preocupação humanitária:
“Pode-se ter uma causa justa, o inimigo pode ser perverso, brutal e principalmente responsável pelo saldo do conflito, e ainda assim — sob qualquer teoria coerente de guerra justa — existe a obrigação de se abster de certas táticas se elas criarem danos colaterais excessivos, de mitigar certas formas previsíveis de sofrimento civil e de ter uma estratégia que faça o resultado da guerra valer o custo.”
O que seriam “danos colaterais excessivos”? Assassinar 10 mil crianças seria aceitável, mas 20 mil não? É ridículo.
O que o autor não tem coragem de dizer é que o “dano colateral” é a crise política generalizada na qual o sionismo está inserido. A política nazista de assassinar os palestinos de fome está causando uma revolta mundial, criando crises políticas até mesmo para governos europeus, como o do Reino Unido e o da França.
Ross Douthat tem medo de que a continuidade da política nazista de “Israel” leve a uma crise tal que o Estado sionista imploda. O fato de que o presidente francês Emmanuel Macron foi obrigado a anunciar que reconheceria o Estado Palestino é uma demonstração de que a pressão contra o sionismo é gigantesca.
O articulista não é contra o genocídio. Ele apenas quer que o genocídio ocorra de maneira mais disfarçada.