
A cobertura da Folha sobre a presença de Lula no funeral do papa Francisco é um exemplo clássico do que se tornou a imprensa brasileira: um esforço para transformar banalidades em “escândalo” e para vender ao leitor a fantasia de que Zelensky é uma mistura de Churchill com São Francisco de Assis.
Logo no início, a matéria tenta sugerir que a chegada de Lula “com orações e cânticos já iniciados” seria sinal de desrespeito ou desprestígio. Mas o texto admite que Emmanuel Macron, Donald Trump e Volodimir Zelensky também chegaram depois do início da cerimônia. Lula tinha um lugar privilegiado, de acordo com o jornal, mas cometeu um pecado mortal no evento: não falar com o repórter da Folha.
Sobre Trump, a Folha se agarra ao terno azul para insinuar uma crítica indireta a Lula. O presidente brasileiro afirma que não viu o ex-presidente dos EUA, o que, em uma cerimônia cheia de protocolos, faz sentido — ainda mais considerando a distância de “umas 15 cadeiras”, mencionada pela própria reportagem.
Mas o que importa é dizer que Lula foi desatento ou desinteressado de maneira irresponsável.
A cobertura vira quase uma caricatura quando fala de Zelensky. O jornal celebra que o ucraniano venceu “a pequena batalha de imagem” por ter conseguido sentar-se ao lado de Trump por 15 minutos, como se um breve encontro nos bastidores fosse uma vitória estratégica para a Ucrânia. É um esforço patético para passar pano para um líder cada vez mais questionado por sua condução da guerra e pela completa desmoralização de seu governo.

Lula, por sua vez, reafirmou a posição que defende desde o início da guerra: que a paz exige negociação. Mas a Folha tenta distorcer essa postura ao dizer que a guerra estaria “sem explicação” nas palavras de Lula — uma leitura simplista e desonesta. O que Lula expressou, na realidade, foi a perplexidade diante da incapacidade (ou falta de interesse) das grandes potências em interromper um conflito que já matou milhares e que arrasta o mundo para crises sucessivas.
A crítica ao governo de Israel na Faixa de Gaza também foi tratada de forma enviesada, como se Lula tivesse tentado “relativizar” os horrores da guerra da Ucrânia. Na verdade, o presidente apontou a necessidade de condenar todas as violências, sem dois pesos e duas medidas, algo que o falecido Francisco repetia à farta.
O que sobra da matéria é apenas um desejo frustrado: desqualificar Lula a qualquer custo. Se o presidente tivesse ficado três dias e dado um beijo de língua em Trump, seria detonado, também. O que importa é ser canalha.
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