Na madrugada de sexta-feira (2), a embarcação Conscience, da missão internacional Flotilha da Liberdade, foi bombardeada por drones armados da entidade sionista em plena navegação por águas internacionais, a 17 quilômetros da costa de Malta. O navio civil estava desarmado e transportava alimentos, remédios e água potável à população palestina da Faixa de Gaza, sitiada há meses por um bloqueio absoluto imposto por “Israel”.
O ataque ocorreu pouco depois da meia-noite, no horário local, quando o navio se preparava para zarpar em segredo — uma medida preventiva adotada pela Coalizão da Flotilha da Liberdade diante do histórico de sabotagens promovidas por “Israel” contra missões de solidariedade com o povo palestino. A ofensiva criminosa provocou um incêndio a bordo e abriu um rombo no casco da embarcação, que começou a afundar. As imagens divulgadas mostram fumaça intensa e chamas consumindo partes do navio.
A coordenadora de imprensa da coalizão, Yasemin Acar, confirmou à CNN que dois ataques consecutivos com drones atingiram a frente do navio e o gerador de energia, o que deixou a tripulação totalmente isolada. “Há um buraco no navio agora, e ele está afundando”, afirmou. “Nosso navio está a 17 quilômetros da costa de Malta, em águas internacionais, e foi alvo de dois ataques com drones”.
Segundo Acar, a destruição do gerador impossibilitou qualquer tentativa de reverter os danos. Um pequeno barco enviado do sul do Chipre chegou ao local, mas não conseguiu oferecer o suporte elétrico necessário para impedir o naufrágio. O navio emitiu um sinal de SOS, mas mesmo assim levou horas até qualquer assistência mínima se apresentar. A comunicação com o Conscience foi completamente perdida após os ataques.
Brasileiros a bordo: ‘nosso barco foi bombardeado’
Entre os cerca de 30 tripulantes — todos civis e ativistas de 21 países diferentes — estava o brasileiro Thiago Ávila. Em vídeo publicado nas redes sociais, Ávila denunciou o crime e fez um apelo urgente:
“Nossa missão foi atacada esta noite. Nosso barco foi bombardeado por drones e ficou em chamas e com um buraco. As pessoas agora estão pedindo um resgate e até agora esse resgate não chegou. Já se passam oito horas desde o ataque.”
A gravação foi feita por volta das 3h da manhã no horário de Brasília, quando, segundo o ativista, nenhuma equipe de resgate havia ainda conseguido alcançar os tripulantes. O governo de Malta afirmou posteriormente que ofereceu o apoio de um rebocador, mas que a tripulação teria recusado a transferência. A versão contradiz os relatos dos ativistas, que apontam omissão deliberada das autoridades maltesas e violação da obrigação legal de resgatar embarcações em perigo.
Ávila destacou que a missão era completamente pacífica e legal: “não violamos nenhuma norma ou tratado internacional. Nosso objetivo era entregar ajuda humanitária a Gaza, que está sob bloqueio, com sede, com fome. Pedimos a todos os governos que atuem imediatamente para garantir resgate e que se mobilizem contra o cerco total em Gaza”.
Sabotagem deliberada e tentativa de homicídio em massa
A ação foi organizada pela Coalizão da Flotilha da Liberdade, rede internacional de ativistas que desde 2010 tenta furar o bloqueio imposto à Faixa de Gaza, especialmente após o massacre do navio Mavi Marmara, quando 10 civis foram executados por forças especiais sionistas em águas internacionais. A nova missão, além do Conscience, contava com uma segunda leva de voluntários que se preparavam para embarcar — entre eles, a ativista ambiental sueca Greta Thunberg.
Segundo a coalizão, “desde o dia 2 de março de 2025, ‘Israel’ bloqueou totalmente a entrada de caminhões com ajuda humanitária em Gaza, deixando mais de dois milhões de pessoas à beira da fome”. Especialistas calculam que seriam necessários ao menos 600 caminhões por dia para garantir o mínimo de sobrevivência — nenhum entrou nos últimos dois meses.
A Flotilha da Liberdade exigiu providências imediatas das autoridades maltesas e da comunidade internacional:
- Resgate urgente dos tripulantes;
- Condenação pública do ataque contra o navio humanitário;
- Fim de todo apoio político, militar e financeiro ao regime sionista;
- Convocação de embaixadores de “Israel” para responder pelo crime.
Hamas: ‘crime de pirataria e terrorismo de Estado’
O movimento de resistência palestino Hamas divulgou nota oficial condenando o bombardeio:
“Em nome de Deus, o mais gracioso, o mais misericordioso
Comunicado de imprensa
O ataque do exército da ocupação israelense contra o navio ‘Al-Dameer’ em águas internacionais é um crime de pirataria e terrorismo de Estado que exige condenação internacional urgente e intervenção imediata.
O ataque criminoso por drones do exército da ocupação sionista contra o navio ‘Conscience’, parte da Flotilha da Liberdade, que rompe o cerco a Gaza, ocorrido na noite passada em águas internacionais, enquanto se dirigia para prestar auxílio ao nosso povo na Faixa de Gaza, é um crime de pirataria e terrorismo de Estado organizado.
Condenamos nos termos mais duros este crime, que reflete a natureza terrorista da entidade ocupante e seu descarado desprezo pela vontade da humanidade e da justiça. Responsabilizamos plenamente seu governo fascista pela segurança do navio e de sua tripulação, que correm risco de morte em decorrência deste ataque criminoso.
Apreciamos os esforços da corajosa tripulação do navio e de todos os ativistas ao redor do mundo que estão rompendo o cerco e a agressão contra Gaza. Os apoiamos e conclamamos a continuarem sua marcha para expor o fascismo dos criminosos de guerra sionistas.
Conclamamos todos os países do mundo a condenarem este crime, e apelamos às instituições das Nações Unidas, especialmente ao Conselho de Segurança da ONU, para que intervenham e interrompam as violações da entidade ocupante criminosa, obriguem-na a cessar sua agressão contra nosso povo e responsabilizem seus líderes por seus crimes contra a humanidade.
Movimento de Resistência Islâmica – Hamas
2 de maio de 2025″
Hesbolá: ataque é fruto do apoio norte-americano
O Hesbolá também emitiu nota condenando a agressão. Em comunicado oficial, declarou:
“Este ataque contra um navio civil pacífico que transportava ajuda humanitária constitui uma violação flagrante das leis internacionais, das normas e dos valores humanitários. Ele confirma, mais uma vez, que essa entidade marginal não respeita resoluções internacionais e só conhece o terror e a arrogância.”
O partido libanês responsabilizou diretamente os EUA, “patrocinadores de todas as atrocidades cometidas por ‘Israel’”, e denunciou a cumplicidade covarde dos países europeus e o silêncio humilhante dos governos árabes diante do genocídio.
‘Israel’ se incrimina: ‘alguns dizem que é um navio do Hamas’
Embora não tenha assumido oficialmente a autoria do ataque, uma declaração publicada pelo jornalista militar sionista Yossi Yehoshua, do jornal Yedioth Ahronoth, funciona como confissão indireta:
“Alguns definem o navio atacado próximo a Malta como afiliado ao Hamas, e dizem que foi um ataque aéreo sofisticado”, disse em seu perfil no X.
A frase mostra como a entidade sionista tenta justificar seus crimes com a acusação genérica e infundada de ligação com o Hamas, recorrente nas suas ações de terrorismo de Estado. A simples suspeita de associação com a resistência palestina é utilizada como autorização para bombardear civis e destruir missões humanitárias.
Genocídio e pirataria
A agressão à Flotilha da Liberdade se soma ao cerco completo à Faixa de Gaza e à campanha genocida promovida pela entidade sionista desde outubro de 2023.
A cumplicidade dos governos imperialistas e a omissão das instituições internacionais tornam cada vez mais evidente que a única resposta efetiva virá da mobilização popular. O ataque ao Conscience é mais uma prova de que o bloqueio precisa ser rompido pela força organizada dos trabalhadores e da solidariedade internacional.