
A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL) abriu uma disputa nos bastidores da família pelo espaço político e pelo papel de porta-voz do ex-presidente. Enquanto aliados da ex-primeira-dama Michelle a apontam como sucessora natural, por viver com o marido e ter acesso direto a ele, os filhos resistem à ideia e tentam se colocar como interlocutores preferenciais.
Na quarta-feira (6), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou que filhos e netos de Bolsonaro o visitem sem necessidade de aval judicial, medida que, simbolicamente, reforça o peso de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na cena política.
O senador tem se projetado como principal voz da família em Brasília: liderou a entrevista coletiva em que a oposição anunciou obstrução no Congresso, participou de protestos comandados por bolsonaristas e tem dado diversas declarações desde a decisão judicial. Ele também conseguiu mobilizar aliados de seu pai, como Sergio Moro (União-PR) e Hamilton Mourão (Republicanos-RS), que engrossaram críticas ao STF e falaram em perseguição política.
Questionado pelo jornal O Globo sobre a possibilidade de Michelle assumir a liderança política durante o período de prisão domiciliar de Bolsonaro, Flávio minimizou.
“Eu não vejo muito o perfil da Michelle para isso. Ela não fala muito com a imprensa, não gosta de dar entrevista. Todos os parlamentares que estão aqui podem ser porta-vozes”, disse. Nos bastidores, parlamentares aliados indicam que o nome do senador desperta mais simpatia no Congresso que o da ex-primeira-dama.

Eduardo Bolsonaro (PL-SP) busca manter influência como articulador internacional da família. Nos Estados Unidos, procura apoio para pressionar autoridades brasileiras e defender os atos do pai.
Já os filhos vereadores Carlos Bolsonaro (PL), do Rio de Janeiro, e Jair Renan (PL), de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, têm mantido postura mais reservada. O mais novo entre os homens esteve em Brasília na semana anterior à prisão, mas sem aparições públicas. Carlos, que não viajou à capital neste mês, passou mal ao saber da decisão judicial e precisou fazer exames cardíacos, recebendo alta horas depois.
Carlos e Jair Renan têm histórico de atrito com Michelle, embora pessoas próximas afirmem que o vereador do Rio demonstrou maior tolerância após a postura dela durante recente internação de Bolsonaro.
Entre aliados, Michelle é vista como nome forte por sua conexão com a base bolsonarista e pela agenda própria de eventos. Desde a prisão, esteve no Pará e na Paraíba em encontros com apoiadores e deve manter a estratégia de viagens, com foco em 2026, quando pode disputar o Senado ou integrar uma chapa presidencial.