
Um estudo conduzido pela Fiocruz e publicado na revista The Lancet Regional Health Americas aponta que dengue e chikungunya afetam de forma desproporcional populações negras e indígenas no Brasil. A pesquisa revela que esses grupos perdem, em média, 22 anos de vida em decorrência das duas doenças, enquanto entre pessoas brancas a média é de 13 anos.
A análise mostra diferenças entre os grupos: negros registram maior perda de anos de vida pela chikungunya, enquanto os indígenas são os mais impactados pela dengue. “A motivação do estudo nasce à medida em que enxergamos que há desigualdades no Brasil e, a partir desta constatação, medimos o quanto isso reflete na vida das pessoas que adoeceram por dengue ou chikungunya”, explica Thiago Cerqueira-Silva, pesquisador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) e líder do trabalho.
Foram analisados mais de 13 milhões de casos de dengue e 1 milhão de chikungunya registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). O estudo considerou hospitalizações, óbitos e fatores de risco como idade, sexo e comorbidades.
Entre os achados, destaca-se a desigualdade regional: jovens do Norte e do Nordeste apresentaram mais anos de vida perdidos em comparação ao Sul e ao Sudeste.
Crianças menores de 1 ano, idosos e pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, também se mostraram mais vulneráveis. Para Cerqueira-Silva, os dados evidenciam “problema estrutural em relação a esses grupos que os torna mais vulneráveis a complicações causadas por estas doenças”.
“Esta escolha de quantificar os anos de vida perdidos em grupos distintos é um diferencial da abordagem do nosso estudo no que diz respeito à investigação das duas doenças, essa é a estratégia que utilizamos para descrever o impacto da desigualdade no Brasil”, continua o Cerqueira-Silva.
Os pesquisadores defendem que políticas públicas de saúde sejam orientadas por análises estratificadas, levando em conta raça, etnia e região. “Uma política pode parecer bem-sucedida na média nacional, mas falhar em atender grupos específicos”, alerta o pesquisador. O Plano de Ação para Redução da Dengue e outras Arboviroses foi citado como uma das iniciativas em andamento.
O estudo, que contou com a colaboração da London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), também reconhece limitações: não foi possível identificar os fatores determinantes das desigualdades, que podem estar ligados a condições de vida precárias ou menor acesso a serviços de saúde.
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