A chamada financeirização da economia impacta o desenvolvimento de todos os países do mundo – com suas singularidades nacionais – independentemente de sua posição na ordem econômica internacional. O fenômeno não se manifesta apenas através do endividamento do Estado, mas também através de vários outros aspectos sociais e econômicos, como reestruturação do trabalho, aumento das desigualdades, endividamento das famílias, deterioração dos serviços públicos etc. 

Há nessa fase um predomínio dos mercados financeiros sobre a produção, as empresas, mesmo as industriais, cada vez mais têm como base de lucro as operações financeiras (ações, derivativos, títulos etc.), e não a produção ou comércio de bens e serviços. As estratégias empresariais passam a privilegiar resultados financeiros de curto prazo, como valorização das ações, em vez de investir em longo prazo ou em inovação produtiva. Empresas de setores produtivos passam a adotar estratégias próprias do setor financeiro: recompra de ações, fusões especulativas, operações para maximizar o valor do acionista. As decisões sobre emprego, produção e investimentos acabam se subordinando à lógica financeira. 

Uma forma simples de medir o peso das finanças na economia como um todo é através da presença de instituições financeiras, entre as maiores empresas de uma determinada economia. Com base nos dados mais recentes, de 2024–2025, segue abaixo um panorama, entre as 20 maiores economias (G-20), indicando quantos bancos estão presentes entre as 10 maiores empresas de cada país. O critério utilizado para definir as 10 principais empresas de cada país foi o de capitalização de mercado, ou seja, o valor total de mercado de todas as ações em circulação de uma empresa, calculado pelo preço atual da ação multiplicado pelo número de ações emitidas. A Tabela permite avaliar o peso do setor financeiro em cada economia, assim como algumas peculiaridades regionais importantes.

Presença de bancos nas 10 maiores empresas de cada país do G-20

País  Nº de bancos entre as 10 maiores empresas Principais Bancos Listados
Argentina 1 Banco Macro
Austrália 4 Commonwealth Bank, NAB, Westpac, ANZ
Brasil 5 Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Nubank, BTG Pactual
Canadá 5 Royal Bank of Canada, TD Bank Group, Bank of Nova Scotia, BMO, CIBC
China 5* ICBC, China Construction Bank, Agricultural Bank of China, Bank of China, Ping An**
Coreia do Sul 0  
França 0  
Alemanha 0  
Índia 4 HDFC Bank, ICICI Bank, State Bank of India, Kotak Mahindra Bank
Indonésia 4 Bank Central Asia, Bank Rakyat Indonesia, Bank Mandiri, Bank Negara Indonesia
Itália 0  
Japão 1 Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG)
México 1 Grupo Financiero Banorte
Reino Unido 3 HSBC Holdings, Lloyds Banking Group, Barclays
Rússia 1 Sberbank
Arábia Saudita 4 Saudi National Bank, Al Rajhi Bank, Riyad Bank, Saudi British Bank (SABB)
África do Sul 4 FirstRand, Standard Bank, Absa, Nedbank
Turquia 1 Akbank
Estados Unidos 0  

Notas: *Na China, Ping An Insurance Group é classificada como grupo de seguros, mas frequentemente é considerada no bloco de financeiras por atuar fortemente em serviços bancários. Se for desconsiderar não-bancos, seriam 4 bancos. Algumas regiões variam conforme parâmetros de fontes ou oscilações de mercado.

Fonte: Inteligência Artificial Aberta. Consulta realizada em 6 de julho de 2025.

Conforme se pode observar, o setor bancário é muito forte entre as 10 maiores empresas de países alguns países subdesenvolvidos da lista (Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul). Em economias que formam o núcleo dos países imperialistas, os bancos têm pouco peso entre esse grupo das 10 maiores empresas. Nos EUA, Alemanha, França e Itália, não há nenhum banco entre as maiores empresas. No Japão, há apenas um banco entre as maiores empresas. As exceções entre os ricos, são Canadá, com metade das 10 maiores empresas sendo bancos, e Reino Unido, com 3 bancos entre as top 10. Nos países imperialistas centrais, as maiores empresas geralmente são ligadas à tecnologia, saúde ou energia. 

Apenas três países da lista do G-20 possuem 5 empresas financeiras, entre as 10 maiores: China, Canadá e Brasil. A China é um caso totalmente específico, porque as cinco instituições financeiras que aparecem na lista são estatais ou são majoritariamente controladas pelo governo chinês. Portanto, estão subordinadas ao projeto nacional de desenvolvimento operado pelo Estado chinês, que conta obviamente com o apoio das empresas estatais, incluindo os bancos. Talvez por isso, a taxa de juros reais da China é, neste momento, algo em torno de 3,15% (cerca de 1/3 a do Brasil). Entre os países imperialistas, o Canadá, certamente figura como uma exceção. Observe-se que este país, mesmo exibindo características de país imperialista (presença global de multinacionais de origem canadense, participação em guerras e blocos econômicos de influência etc.), é considerado de “segunda linha” em comparação aos principais imperialismos, como EUA, França, Reino Unido e Alemanha. 

No Brasil, entre as 10 maiores empresas por capitalização de mercado em 2024, 5 são bancos: pela ordem, Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Nubank e BTG Pactual. Na lista aparece apenas um banco público, o Banco do Brasil, que é de economia mista. O controle acionário é Estatal, a União Federal detém a maioria das ações ordinárias (com direito a voto), mantendo o controle efetivo do banco. Mesmo tendo objetivo de lucro para os acionistas, o banco atua em setores estratégicos, como crédito agrícola, infraestrutura etc. O Banco do Brasil foi listado pelo governo de Jair Bolsonaro para ser vendido, mas não foi possível completar o serviço. 

A força do sistema financeiro no Brasil está diretamente relacionada ao sistema da dívida pública. Entre os países do G-20, nenhum gasta tanto com os serviços da dívida quanto o Brasil, nem mesmo a Argentina, cuja economia neste momento corre o risco de colapso em função do endividamento externo. O pagamento dos juros da dívida pública brasileira custou, só nos últimos 12 meses, até abril, aproximadamente R$928,4 bilhões. Essa cifra equivale a 7,71% de todo o PIB do país no período. Essa despesa com juros é o componente principal do chamado déficit nominal do setor público, que no mesmo período alcançou R$ 939,8 bilhões (ou 7,91% do PIB). Ou seja, o chamado “problema fiscal” no Brasil, pretexto para sucessivas retiradas de direitos dos trabalhadores, são os gastos com os serviços da dívida pública.

Além de ser o país do mundo que mais gasta com o serviço da dívida pública (juro e amortizações) o Brasil apresenta outra importante especificidade nessa área: o endividamento público, a emissão de títulos para captação de recursos, não tem o objetivo de viabilizar investimentos ou obras públicas, como seria o normal. O endividamento é gerado sem que ocorra um investimento ou prestação de serviço correspondente. Cria-se uma dívida, emitem-se públicos, e não há nenhum investimento que justifique a geração da dívida. Com a iniciativa, os governos no Brasil violam a Constituição Federal, que proíbe a emissão de títulos públicos para pagar apenas juros. É o princípio constitucional conhecido como a “Regra de Ouro” das finanças públicas, prevista no artigo 167, inciso III, da Constituição Federal do Brasil.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 08/07/2025