Fim da reeleição e eleição unificada avançam no Senado

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, nesta quarta-feira (21), a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 12/2022, que extingue a possibilidade de reeleição para presidente da República, governadores e prefeitos, ao mesmo tempo em que estabelece mandato único de cinco anos para esses cargos. A mudança, se aprovada em Plenário, também valerá para os parlamentares — deputados federais, estaduais, distritais, senadores e vereadores.

Como a emenda só passará a valer se for aprovada pelo plenário do Senado e, em seguida, passar também pela Câmara dos Deputados, o pleito de 2026 não é afetado pelo texto. O presidente Lula, por exemplo, poderá se candidatar mesmo se a PEC for aprovada em definitivo.

Além disso, a PEC determina eleições unificadas para todos os cargos a partir de 2034, encerrando o ciclo atual de pleitos alternados a cada dois anos entre eleições municipais e gerais. A matéria recebeu pedido de urgência e agora será analisada no Plenário do Senado.

Mandato único e fim da reeleição no Executivo

De autoria do senador Jorge Kajuru (PSB-GO) e relatada por Marcelo Castro (MDB-PI), a proposta aprovada na CCJ proíbe que ocupantes de cargos do Executivo possam buscar reeleição consecutiva. Isso se aplica mesmo que o político deixe o cargo meses antes da eleição. Em contrapartida, o tempo de mandato será ampliado para cinco anos.

Marcelo Castro argumentou que a reeleição gerou vícios e distorções na cultura política brasileira:

“A experiência acumulada em quase trinta anos de vigência da regra da reeleição não correspondeu às expectativas.”

A proposta, no entanto, não terá efeito retroativo: os atuais mandatários poderão disputar reeleição em 2026, caso estejam em seus primeiros mandatos.

Legislativo terá mandatos de cinco anos e eleições sincronizadas

A mudança também atinge o Legislativo. Deputados e vereadores continuarão podendo se reeleger, mas com mandatos ampliados de quatro para cinco anos. Já os senadores, que inicialmente passariam a ter dez anos de mandato, também foram incluídos na regra de cinco anos, por emenda do senador Carlos Portinho (PL-RJ). Ele defendeu que a renovação mais frequente fortalece a democracia.

Outra mudança significativa é o fim da alternância de eleições para o Senado. A partir de 2039, todas as 81 cadeiras serão disputadas simultaneamente a cada cinco anos.

Nova organização das mesas diretoras e transição gradual

Para adequar a nova duração das legislaturas no Congresso, as mesas diretoras da Câmara e do Senado também sofrerão alterações. Elas serão eleitas para dois mandatos distintos: um de três anos e outro de dois, dentro de uma mesma legislatura de cinco anos. Continua valendo a proibição de recondução para os mesmos cargos dentro do mesmo ciclo.

Unificação das eleições: menos custo, mais clareza

Um dos pontos centrais da proposta é a unificação de todos os pleitos — municipais, estaduais e federais — a partir de 2034. Segundo o relator Marcelo Castro, isso trará ganhos econômicos e operacionais para a democracia brasileira:

“Cada eleição demanda um volume enorme de recursos e energia. Com a unificação, esses recursos poderão ser usados em outras áreas como saúde e educação.”

O presidente da CCJ, senador Otto Alencar (PSD-BA), também defendeu o fim do “calendário eleitoral permanente”:

“Eleição de dois em dois anos não dá descanso nem ao eleitor, nem aos candidatos. Nós precisamos de foco na gestão e em políticas públicas.”

Fim da reeleição: de proposta isolada a consenso multipartidário

A reeleição no Executivo foi introduzida em 1997, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que se beneficiou da regra para conquistar um segundo mandato. Anos depois, o próprio FHC reconheceu que a mudança foi um erro.

O senador Kajuru, autor da PEC, afirmou que a principal motivação da proposta é restabelecer o equilíbrio da disputa eleitoral:

“Quem está no cargo tem uma vantagem desproporcional: visibilidade, acesso à máquina pública e poder de articulação. Isso inibe a renovação política.” Entre os presidentes da República, desde 1998, todos os presidentes em primeiro mandato conseguiram se reeleger nas eleições seguintes. A única exceção foi Jair Bolsonaro (PL), derrotado em 2022. 

Desafios no Plenário

A PEC 12/2022 precisa ainda passar por votação no Plenário do Senado. Marcelo Castro demonstrou otimismo com a construção de um consenso após acatar mudanças sugeridas por senadores de diferentes partidos:

“É uma matéria polêmica, mas senti que havia maioria para o mandato de cinco anos. O mais importante é o fim da reeleição e a unificação dos pleitos.”

Entre os pontos rejeitados durante a tramitação na CCJ estão propostas de vedar reeleição não consecutiva, limitar a idade para candidaturas presidenciais e proibir a reeleição ao Senado — medidas consideradas excessivas pelo relator.

Repercussão e implicações políticas

A proposta tem potencial para transformar profundamente o sistema político-eleitoral brasileiro. Ao mesmo tempo em que amplia os mandatos, limita a perpetuação de governantes no poder e promove maior isonomia entre os candidatos.

Especialistas avaliam que, se aprovada, a medida poderá fortalecer o planejamento de políticas públicas de longo prazo, reduzir o uso eleitoreiro da máquina pública e aumentar a renovação de lideranças.

Caso avance no Senado e na Câmara, a nova regra poderá redesenhar o cenário político a partir da próxima década, sinalizando uma ruptura com o modelo implantado no final dos anos 1990.

Artigo Anterior

EUA querem usar energia excedente de Itaipu para alimentar datacenters

Próximo Artigo

Acusações sobre INSS não afetam popularidade de Lula, diz pesquisa

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!