
Um mês após o presidente Lula (PT) mencionar pela primeira vez o fim da escala de trabalho 6×1, a proposta se consolidou como a iniciativa do governo mais conhecida pela população, segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada na última quarta-feira (4). O levantamento aponta que 64% dos entrevistados ouviram falar sobre a medida, superando o conhecimento de outros programas sociais recentes, como a isenção da conta de luz para beneficiários do CadÚnico (52%) e o novo Vale-Gás (59%).
Apesar do alto reconhecimento popular, a tramitação da proposta na Câmara dos Deputados avança em ritmo lento e depende da pressão de movimentos sociais. Apresentada em fevereiro pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) como Proposta de Emenda à Constituição (PEC), a pauta ganhou destaque no discurso de Lula no Dia do Trabalho, mas foi ofuscada pela crise no INSS.
Na Câmara, a proposta enfrenta resistências. Uma subcomissão especial foi criada para analisar o texto, sob relatoria do deputado Luiz Gastão (PSD-CE), que prepara um plano de trabalho com audiências públicas e discussões com empresários e trabalhadores. No entanto, Gastão já adiantou as dificuldades para aprovar a medida em sua forma atual.
“Nada é impossível, mas eu diria que é muito difícil passar como está. Podem ser feitos alguns ajustes e ainda devem ser discutidas compensações. Em alguns setores, a supressão pura e simples da escala pode gerar um aumento de custo de 33% na folha de pagamento, o que vai ser transferido para o produto e impactar, no final das contas, a sociedade, que vai pagar mais caro”, afirmou o relator.

A Frente Parlamentar de Comércio e Serviços, liderada pelo deputado Domingos Sávio (PL-MG), também se opõe à proposta. “O texto é tão absurdo que ele estabelece que é proibido trabalhar mais do que quatro dias por semana em um país que está nos últimos lugares de produtividade mundialmente”, criticou Sávio.
Enquanto o debate no Congresso avança devagar, movimentos sociais e centrais sindicais intensificam a pressão. Na última semana, entidades como MST, CUT, UNE e CNBB se reuniram com o ministro Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência) para propor a realização de um plebiscito popular no segundo semestre.
“Fizemos a reunião para apresentar a proposta para pressionar o governo a ter uma atuação firme”, explicou Igor Felippe, coordenador da iniciativa.
A líder do PSOL, Talíria Petrone (RJ), classificou o tema como “prioridade da bancada”, mas admitiu não ter “conhecimento da instalação de nenhuma instância” específica para acelerar a votação.