A primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, teria protagonizado um suposto constrangimento diplomático essa semana. Em reunião com Xi Jinping, junto com o presidente Lula e ministros próximos, além de membros do governo chinês, ela teria pedido que o presidente chinês regulasse a rede social chinesa TikTok, alegando que seu algoritmo favoreceria a extrema direita.  Segundo relatos da imprensa burguesa, a fala dela teria causado irritação em Xi e na primeira-dama chinesa, Peng Liyuan.

O blogueiro Esmael Morais comentou o caso em sua coluna, publicada no sítio Brasil 247, intitulada Janja acerta ao criticar o TikTok, mesmo sob ataques. Morais afirma que a situação vai além do “suposto ‘constrangimento’ causado na China”. Ela seria “um alerta sobre o poder das big techs e a urgência de regular seus algoritmos”. Afirma, também, que a plataforma “virou um terreno fértil para a extrema direita, que manipula narrativas, promove desinformação e incita ataques misóginos e antidemocráticos”.

A consideração de Janja, e também de Esmael Morais, é totalmente absurda e expressa a falência política da esquerda pequeno-burguesa. Utilizando o espantalho das “big techs”, o blogueiro quer fazer parecer que o fato de que a extrema direita está muito mais bem organizada e ativa nas redes sociais seria culpa das próprias plataformas, que possuem algoritmos programados simplesmente para entregar ao usuário aquilo que ele mais demonstra interesse ao utilizar as redes sociais. Diante disso, Janja e Esmael conclamam o próprio governo chinês a censurar a plataforma, acostumados a viverem no ambiente ditatorial e repressivo do Brasil de Xandão e do STF.

Essa consideração e plano de ação são típicos de uma esquerda que já não está mais preocupada em realizar a luta política contra a direita em nenhum dos ambientes onde ela se apresenta. No caso da Internet, parece um tanto óbvia a conclusão: se a extrema direita está ganhando a disputa, é preciso reforçar a presença da esquerda nas plataformas, aumentando a produção de conteúdo e o trabalho em cima disso.

Além disso, é preciso ter uma política correta para a Internet, de modo a atrair a população a defendê-la. Deve-se defender algo popular, que vá engajar as pessoas a se manifestarem na Internet em defesa daquilo. No entanto, não é isso que se vê, e esse é o verdadeiro problema da atuação da esquerda nas redes.

A própria matéria de Esmael Morais, que corresponde à opinião de um setor amplo da esquerda nacional, pelo menos no que diz respeito às suas lideranças, é demonstrativa desse problema político: diante do sucesso da extrema direita em determinado ambiente, chamam a “polícia”: censurem-nos agora. Como ter algum apoio e engajamento na Internet defendo essa política tão impopular, é difícil imaginar.

A população, seja ela brasileira, chinesa, ou de qualquer outro país, não é a favor de censurarem o meio de comunicação onde ela melhor pode se expressar. O povo quer liberdade de expressão irrestrita, e é isso que a extrema direita diz defender – embora o faça de forma demagógica e inconsequente, já que defende censura quando é de seu interesse político.

Esmael, na tentativa de defender Janja do mal-estar causado pela publicação de suas colocações, afirma que o erro verdadeiro foi de quem vazou a sua fala. O blogueiro afirma: “a diplomacia de manual – aquela que se cala diante de injustiças em nome de uma suposta etiqueta – viu ‘erro’ onde houve coragem”. Para Esmael Morais, a fala de Janja teria sido um “gesto de coragem”.

Nada disso é fato. É evidente que Janja foi extremamente infeliz em sua colocação, e a imprensa se aproveitou disso para atingir Lula. A imprensa atua, no entanto, de forma hipócrita: todos esses órgãos são também defensores da censura e da regulação das redes sociais. No entanto, sabendo que se trata de uma posição extremamente impopular, se aproveitam da falta de traquejo político da primeira-dama e aproveitam o fato para prejudicar a imagem do governo.

A utilização de argumentos identitários, como acusar a imprensa de “machismo” e de “misoginia”, como fez Janja e o próprio Esmael, que afirmou que “as críticas da primeira-dama ocorrem num contexto de hostilidade virtual crescente, especialmente contra mulheres progressistas”, apenas piora a situação.

É evidente que não se trata de um ataque contra mulheres e a utilização desse argumento gasto só contribui negativamente para a imagem do governo, que demonstra precisar “apelar” para isso por não ter como defender sua posição pró-censura.

O episódio todo foi um constrangimento desnecessário para o governo. Deveria servir de alerta para o PT e para a esquerda de que essa política é extremamente impopular e não deveria ser jamais defendia. A imprensa utiliza tudo isso de forma oportunista e ataca o governo, que deixou mais um flanco aberto para seus detratores.

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Last Update: 16/05/2025