O Boletim Macro do FGV IBRE de julho trouxe uma revisão positiva para a projeção do PIB brasileiro em 2024, elevando a estimativa de crescimento de 2% para 2,2%.
Para o segundo trimestre do ano, a previsão de crescimento subiu de 0,5% para 0,7%. Conforme destacado, essa revisão considera que o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul na atividade econômica brasileira será menor do que o inicialmente previsto. Dados de maio e junho mostram que seus efeitos na inflação de alimentos também parecem estar diminuindo, conforme apontam Andre Braz e Matheus Dias.
Os economistas destacam uma queda na inflação de alimentos de 0,66% em maio para 0,47% em junho, segundo o IPCA. Para julho, o Monitor da Inflação do FGV IBRE prevê uma retração de 0,55% na inflação de alimentos. Essa melhora nas projeções do PIB também é atribuída ao bom desempenho dos serviços e à forte retomada da indústria da transformação. Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, informou que o PIB da indústria de transformação foi revisado de -0,4% para 1,1%, e o dos serviços, de -0,4% para 0,3%.
O consumo das famílias mantém um desempenho positivo devido a ganhos reais de renda e uma dinâmica favorável do mercado de crédito, embora a previsão de crescimento para o trimestre tenha sido ajustada de 0,7% para 0,2%. O investimento continua em recuperação, com revisão de crescimento de 0,5% para 1,9% no período, apesar de ainda estar abaixo do patamar histórico.
O Boletim também aborda o cenário externo, destacando uma perspectiva positiva para cortes de juros nos Estados Unidos, que poderiam começar no terceiro trimestre. José Júlio Senna, em sua análise de política monetária, alerta para o risco de um excesso de otimismo do mercado, com a possibilidade de cortes de juros ocorrendo a cada duas reuniões do Fomc, ao invés de consecutivamente.
Castelar e Matos indicam que o afrouxamento monetário nas principais economias tende a favorecer emergentes como o Brasil, mas isso ainda não se traduziu em melhor desempenho das ações desses países. Eles apontam que a economia chinesa abaixo do esperado e tensões geopolíticas, como o déficit público americano e a possibilidade de intensificação da guerra comercial se Trump vencer as eleições, são fatores que colaboram para o fortalecimento do dólar e reduzem a atratividade de ativos emergentes.
No cenário doméstico, os pesquisadores expressam preocupação com a gestão das contas públicas, destacando a necessidade de disciplina fiscal para manter a sustentabilidade da dívida pública. Eles ressaltam a importância de um apoio político para o contingenciamento de gastos e novas medidas para controlar o crescimento das despesas nos próximos anos.
Braz e Dias afirmam que a estabilidade da taxa de câmbio e a tendência de preços dos alimentos serão cruciais para a evolução dos preços no terceiro trimestre, com a expectativa de uma inflação média maior que a registrada no mesmo período de 2023. A previsão é que o grupo alimentação no domicílio encerre o ano com alta de 5%, enquanto os preços de serviços livres devem manter um ritmo lento de recuo, com expectativa de fechar 2024 em alta de 3,7%. A projeção para o IPCA de 2024 é de 4,1%, sem necessidade de aumento na taxa básica de juros, que deve permanecer em 10,50% até o final do ano.
Senna, porém, observa o cenário de juros com cautela, mencionando que um eventual descasamento entre otimismo do mercado e realidade pode levar a novo stress no mercado de câmbio. Ele destaca que a disposição do governo em manter a política fiscal será fundamental para evitar pressões inflacionárias e garantir a estabilidade econômica.