A atriz Fernanda Torres, de 59 anos, se tornou a primeira brasileira a vencer o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama, na noite deste domingo (5), em Los Angeles. Torres foi premiada por sua interpretação de Eunice Paiva em Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles.
“Meu Deus, eu não preparei nada, porque eu já estava feliz [em ser indicada]. Este é um ano incrível para as atuações femininas, tantas atrizes que eu admiro. Quero dedicar este prêmio à minha mãe. Ela esteve aqui há 25 anos, e isso prova que a arte perdura, mesmo em tempos difíceis, como os que Eunice Paiva enfrentou. Obrigada ao Walter Salles, que acreditou nessa história e me guiou nesse projeto tão especial”, disse a atriz.
“Eu quero dedicar esse prêmio à minha mãe, que esteve aqui há 25 anos. Esta é a prova de que a arte dura na vida até durante momentos difíceis na vida pelos quais a Eunice Paiva passou. E, com tanto problema no mundo, tanto medo, esse é um filme que nos ajudou a pensar em como sobreviver a tempos como esses. Então, para a minha mãe, para minha família, para o Selton, para os meus filhos, muito obrigada”, concluiu Fernanda Torres.
Em discurso anterior à premiação, a atriz já havia considerado uma vitória ter sido indicada e descartou a hipótese de levar o prêmio para casa. “A chance de alguém falando português levar um prêmio desse tamanho é praticamente nula”, disse ela à uma reportagem na noite anterior a da premiação. “Só de estar indicada para uma categoria tão incrível, de atriz em drama, já estourei meu champanhe. Então amanhã eu vou para lá com uma sensação de dever cumprido”, completou.
Ela é a terceira atriz brasileira a ser indicada ao Globo de Ouro. A primeira foi Sonia Braga, lembrada pelo prêmio em três ocasiões, como atriz coadjuvante em “O Beijo da Mulher-Aranha”, de 1986, “Luar sobre Parador”, de 1989, e “Amazônia em Chamas”, de 1995.
Depois veio Fernanda Montenegro, que também atuou em Ainda Estou Aqui. A veterana disputou o troféu de atriz em filme de drama por “Central do Brasil”, também de Walter Salles, na cerimônia de 1999. Ela perdeu para Cate Blanchett, por “Elizabeth”.
Neste domingo, Fernanda Torres superou concorrentes como Nicole Kidman (Babygirl), Angelina Jolie (Maria Callas), Tilda Swinton (O Quarto ao Lado) e Kate Winslet (Lee). No palco, emocionada, dedicou a vitória à mãe, Fernanda Montenegro, indicada ao mesmo prêmio em 1999 por Central do Brasil.
Além de ser o primeiro Globo de Ouro para uma atriz brasileira, a vitória impulsiona a campanha de Ainda Estou Aqui rumo ao Oscar 2025. O filme, que aborda a luta de Eunice Paiva durante a ditadura militar brasileira, já está entre os pré-selecionados para Melhor Filme Internacional e tem chances de emplacar em outras categorias, incluindo Melhor Atriz.
O longa narra a história de Eunice Paiva, mãe do escritor Marcelo Rubens Paiva e viúva do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar brasileira. O longa, inspirado no livro homônimo de Marcelo, tem sido um sucesso de crítica e público, com mais de 3 milhões.
A história se passa na década de 1970, no período mais intenso da ditadura militar no Brasil, e acompanha a trajetória da família Paiva, composta por Rubens (interpretado por Selton Mello), Eunice (vivida por Fernanda Torres) e seus filhos.
A vida da família se transforma completamente quando, em um dia fatídico, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e some sem deixar rastros. Eunice dedica décadas em busca de respostas sobre o paradeiro do marido, além de precisar se reconstruir e traçar um novo caminho para si e para seus filhos.
A trajetória de Ainda Estou Aqui começou no Festival de Veneza, onde ganhou o prêmio de Melhor Roteiro. Desde então, a obra acumulou prêmios internacionais e conquistou o público brasileiro, com mais de 3 milhões de ingressos vendidos.
A lista oficial de indicados ao Oscar será divulgada em 17 de janeiro. Caso seja indicada, Fernanda Torres repetirá o feito de sua mãe, que concorreu ao prêmio em 1999. “Este é um marco para o cinema brasileiro e para a representação de nossas histórias em Hollywood”, disse Walter Salles após a cerimônia.
Nos últimos anos, o cinema nacional tem ganhado força em festivais e premiações globais. A conquista de Fernanda Torres no Globo de Ouro consolida esse momento, enquanto Ainda Estou Aqui reafirma o potencial do Brasil em contar histórias universais a partir de um contexto local.