No primeiro domingo desse mês (6), o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Ualid Hussein Ali Mohd Rabah, foi entrevistado no programa Boa noite 247, da TV 247. Ao ser questionado sobre o apoio do Ansar Alá, do Iêmen, à Palestina, o líder da FEPAL desconversou, falou generalidades sobre a história do país árabe e, finalmente, reproduziu uma das mais difundidas intrigas contra a Resistência naquela região.
“Eu sou por um Estado laico, democrático, em que o primado dos direitos humanos e civis seja absoluto, república, eleições, parlamento, eleições municipais, etc. Eu recuso qualquer pensamento monárquico e qualquer pensamento que leve ao clericalismo governamental. E essa é a posição histórica do movimento nacional palestino. Quem quiser nos colocar um cabresto que seja denunciado adequadamente”, declarou Rabah.
Em primeiro lugar, é estranho que se diga isso quando o assunto é o Eixo da Resistência. O arquiteto do grupo é o Irã, que é uma República, com parlamento, eleições etc. O principal representante do Eixo na Palestina é o Hamas, que defende um regime parecido para a Palestina. Trata-se, portanto, de uma declaração ignorante, baseada nos preconceitos difundidos pela imprensa burguesa.
Mesmo que este não fosse o caso, qual o sentido da colocação? Para Rabah, regimes e grupos religiosos, simplesmente por serem religiosos, não deveriam ser apoiados na luta contra o imperialismo.
Esta política é a política do imperialismo, que é difundida principalmente através do identitarismo, que denuncia o “fundamentalismo religioso” para fazer demagogia com a questão da mulher na sociedade. Segundo esta ideologia reacionária, regimes ditos democráticos, as mulheres não seriam oprimidas, uma vez que seus corpos podem estar expostos.
Foi exatamente esta política a responsável pela confusão no interior da esquerda em relação ao Talibã, que colocou fim a uma ocupação imperialista de duas décadas no Afeganistão. Esta mesma política divide apoio à resistência armada palestina contra o regime nazista israelense. Sobre o Iêmen, cabe destacar que nenhum outro governo dito democrático no mundo faz mais pela Palestina que os Partidários de Deus (Ansar Alá). Por outro lado, nenhum outro regime fez mais pela luta anti-imperialista no Oriente Médio que a República Islâmica do Irã nascida com a Revolução de 1979.
De maneira maliciosa, o líder da FEPAL coloca os grupos religiosos revolucionários no mesmo balaio de mercenários financiados pelo imperialismo como Estado Islâmico, HTS e Al-Qaeda para tomarem o controle da Síria em conjunto com o Sionismo e a OTAN.
“Eu sou avesso a essa ideia de resistência islâmica. E os cristãos não têm resistência? A resistência é nacional. A resistência é de libertação nacional, de todos os cidadãos envolvidos. Quem se aferrar ao equívoco da islamização da resistência, a islamização por emirados e microestados, estará dando razão a Israel. O que Israel quer é que a Síria tenha, por exemplo, três, quatro micro-Estados Unidos. Hospícios Autoproclamados Estados Islâmicos”, afirmou Rabah.
Essa declaração se alinha totalmente ao imperialismo, pois ataca toda resistência islâmica do Oriente Próximo – Irã, Hesbolá, Ansar Alá e, em especial, o Hamas, oficialmente conhecido como Movimento de Resistência Islâmica. Evidentemente, tal crítica é feita de maneira velada porque o líder da FEPAL não tem força para sustentar sua posição. O combate a esta organização se trata do único pretexto apresentado para bombardear criminosamente lares e hospitais de um país inteiro, matando 50 mil pessoas, sendo mais da metade mulheres e crianças.
Para caluniar a resistência islâmica no Oriente Médio, Rabah cita o governo Gamal Abdel Nasser no Egito como o modelo de nacionalismo árabe, que teria enfrentado oposição principal e justamente da Irmandade Muçulmana. O problema é que esse nacionalismo árabe já não existe mais, o regime egípcio de hoje é controlado pelas mesmas pessoas da época de Nasser. A última expressão desse nacionalismo árabe foi a Síria, onde o regime caiu de podre.
Isso vale também para a Autoridade Palestina, representada por Mahmoud Zeidan Abbas do Fatá, organização política a qual Ualid Rabah está ligado. A organização que foi liderada por Iasser Arafat e que encabeçou a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) capitulou totalmente, no que se refere à política pelo fim do regime de “Israel”, diante dos Acordos de Oslo em 1993.
Atualmente as organizações que lutavam ao lado do Fatá, apoiam o Hamas e a Autoridade Palestina reprime toda mobilização e qualquer tentativa de organização de resistência na Cisjordânia a serviço do Sionismo e do imperialismo. Sobre isso, nenhuma palavra do líder da FEPAL. Não há qualquer defesa de uma resistência armada para libertação Palestina, somente lamentação pela vítima e nem mesmo esforço efetivo para construção de um movimento nacional. Esse setor tem medo de fazer uma luta real porque resultaria inevitavelmente no apoio ao Hamas.