Feminicídios mobilizam país e levam milhares às ruas por justiça

As ruas de dezenas de cidades brasileiras foram tomadas neste domingo (7) por uma onda de indignação coletiva diante da escalada de feminicídios no país. A mobilização nacional Mulheres Vivas, convocada por movimentos feministas como a União Brasileira de Mulheres (UBM) e o Levante Mulheres Vivas, ganhou força após uma sequência brutal de assassinatos e ataques contra mulheres na última semana — entre eles o que amputou as pernas de Tainara Souza Santos, arrastada por um quilômetro na Marginal Tietê, o duplo feminicídio no Cefet-RJ e o assassinato da cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos, em Brasília.

A apenas 48 horas dos atos, São Paulo registrou mais dois feminicídios dentro de residências, em Diadema e Santo André, onde mulheres foram mortas a facadas por seus companheiros. A repetição do padrão de violência evidencia uma emergência nacional. Os números confirmam: 3,7 milhões de mulheres sofreram violência doméstica nos últimos 12 meses; em 2024, 1.459 mulheres foram assassinadas por serem mulheres — quatro por dia. Em 2025, o país já ultrapassa 1.180 mortes.

Leia também: Mulheres saem às ruas do Brasil para denunciar feminicídios

Na Avenida Paulista, o protesto reuniu entre 9,2 mil e 10,3 mil pessoas, segundo o Monitor do Debate Político da USP. Vestidas de preto, roxo e lilás, manifestantes ergueram cruzes, cartazes e palavras de ordem que ecoaram em outras capitais, como Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e no Distrito Federal — onde seis ministras, deputadas federais e a primeira-dama Janja Lula da Silva marcaram presença.

Entre as lideranças presentes na Paulista, a presidenta da UBM-SP e do Conselho Municipal de Mulheres, Claudia Rodrigues, afirmou que o país não pode naturalizar a barbárie. “Em vez de estarmos na rua celebrando as coisas boas da vida, estamos aqui lutando para preservar nossa existência, para garantir o futuro das vidas que parimos diariamente. Lutando para defender nosso corpo. Cobrando justiça para todas que foram assassinadas pelo machismo, todas que foram vitimadas pelo sistema patriarcal.”

Claudia também destacou a força coletiva que sustenta a mobilização e lembrou mulheres vítimas da violência de gênero, como a estudante Bruna Oliveira — assassinada em Itaquera, em abril — e a ubemista Débora Soriano, morta em 2016. Para ela, a pressão popular é a única via capaz de acelerar políticas de proteção, prevenção e responsabilização.

Para a deputada estadual, Leci Brandão (PCdoB-SP), “a força dessa mobilização mostra que não aceitaremos retrocessos nem silêncios diante de tantas perdas. Seguimos juntas, vivas e em movimento, pela vida e pela dignidade de todas nós”.

Os atos deste domingo deixaram evidente que a pauta feminista voltou ao centro do debate público. A articulação rápida e massiva dos movimentos demonstra que o país não aceita mais viver sob a repetição semanal de crimes anunciados. O recado das ruas é claro: enquanto o Estado falhar em proteger as mulheres, as mulheres ocuparão as ruas para exigir vida, dignidade e justiça.

__
Fotos: Rovena Rosa-AgBr/Caco Moreira

Artigo Anterior

Exploração na Margem Equatorial exige comando estatal e contrapartidas ambientais

Próximo Artigo

Ministro das Cidades aposta em pacto nacional para viabilizar Tarifa Zero

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!