Apenas no primeiro semestre de 2025, os feminicidas deixaram ao menos 683 crianças órfãs no Brasil , o que equivale a quatro por dia. No mesmo período, o País teve 950 vítimas de feminicídio. Ou seja, além da covardia de tirarem a vida de mulheres por motivos torpes, ainda deixam marcas profundas e doloridas na vida de centenas de crianças e adolescentes.
Os dados foram colhidos e trabalhados pelo Laboratório de Estudos de Feminicídios (Lesfem), da Universidade Estadual de Londrina, e originalmente publicados pelo jornal O Globo nesta quarta-feira (17).
Além da torpeza que envolve o crime em si e do impacto na vida dos filhos dessas mulheres, não é incomum eles serem cometidos na frente dessas crianças e adolescentes, especialmente considerando que 39% dos casos tentados ou consumados ocorrem na casa das vítimas.
Para ficar no estado do Paraná, onde fica o Lesfem, três feminicídios foram registrados somente na capital, Curitiba, no último final de semana. Em um dos casos, Priscila França, de 42 anos, foi assassinada diante do filho de 8 anos. No estado, houve 144 feminicídios em 2025. Somando os casos tentados com os consumados, foram 346.
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Em todo o Brasil, segundo o Laboratório, em 2024 houve 4.145 casos tentados e consumados, salto de quase 64% sobre 2023. Considerando apenas os que de fato resultaram na morte das mulheres, o ano passado teve 1.859 foram consumados. Até o momento, 2025 teve 2.978 feminicídios e tentativas. Mais de 24% foram cometidos por companheiros, ex-companheiros ou parceiros.
De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, até o momento, 1.075 mulheres foram mortas por sua condição feminina.
Em 2023, uma importante lei, de autoria da deputada Maria do Rosário (PT-RS), foi aprovada, garantindo pensão especial para filhos e dependentes órfãos de mulheres vítimas de feminicídio, um direito básico para que essas crianças possam ter alguma garantia de sobrevivência após perderem a mãe.
Ações de enfrentamento
A situação é alarmante e tem piorado sensivelmente. Casos recentes de feminicídio — como o de duas funcionárias do Cefet/Rio, mortas por um colega de trabalho — e tentativa — como a da mulher que teve suas pernas amputadas depois de ser atropelada e arrastada de carro por um ex-namorado na cidade de São Paulo — levaram novamente as mulheres às ruas no dia 7, em defesa da vida.
Os casos e protestos também repercutiram em nível federal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou em mais de uma ocasião sobre a violência de gênero. Nesta quarta (17), durante a última reunião ministerial do ano, disse que a mulher não é a agressora, é vítima de agressão e que “se nós, homens, somos algozes, precisamos assumir para nós a tarefa de sermos solidários às mulheres”.
O presidente também defendeu que essa deve ser uma bandeira de todo o governo e não apenas do Ministério das Mulheres. Dirigindo-se aos demais ministros, salientou: “Enquanto vocês estiverem no governo, vão ter de tocar a questão do feminicídio na pauta de vocês, para que a gente transforme isso em uma causa do Planalto.”
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O governo tem adotado, desde o começo da gestão, medidas para combater a violência contra a mulher por meio de campanhas, expansão das Casas da Mulher Brasileira e ações que buscam a autonomia econômica das brasileiras, entre outras.
No ano passado, outro passo importante também foi dado com a sanção do Pacote Antifeminicídio, que tornou o crime autônomo (e não mais um agravante), aumentando as penas para os assassinos de 20 para 40 anos.
Mas, esse conjunto de ações ainda não foi suficiente para mudar esse quadro dramático, que também depende da conscientização e da mobilização das demais esferas governamentais, de todos os poderes e da própria sociedade.