O capitalismo é uma ilusão.

Por Felipe A. P. L. Costa *

A semana começou agitada e hoje eu tive uma grande lição de economia política: devo dizer que amo a livre iniciativa, pena que as corporações a odeiem tanto.

Penso e pratico a livre iniciativa desde menino. Uma das minhas primeiras iniciativas como empreendedor foi por volta de 1970, em plena ditadura. Eu tinha então uns 10-11 anos. Morávamos no Cruzeiro Novo, em Brasília.

O comércio local era muito incipiente e eu decidi entrar no ramo. Comprei doces e balas em uma distribuidora e fui revender no Cruzeiro.

Lembro bem do meu raciocínio inicial. Naquela época, três balas eram vendidas por algo como 10 centavos. Fiz as contas e percebi que poderia ter lucro oferecendo quatro balas, com a vantagem adicional de poder atrair mais consumidores.

E foi o que eu fiz. Não deu para ficar rico, como ficaram ricos os gigantes do mundo corporativo, mas a brincadeira foi adiante.

Os gigantes do mundo corporativo fazem exatamente o oposto. Veja o comportamento das big techs: compram ou esmagam a concorrência. As corporações agem contra a livre iniciativa, pois elas simplesmente não admitem concorrência.

No fim das contas, claro, quem paga o pato é o consumidor: hoje, em um universo econômico cada vez mais dominado por monopólios, os meus clientes de outrora não conseguiriam comprar mais do que uma bala por 10 centavos, ou talvez nem isso.

Notas

[*] Sobre a campanha Pacotes Mistos Completos, ver o artigo Ciência e poesia em quatro volumes.

[1] Três exemplos de como as empresas odeiam a livre iniciativa e a concorrência.

[2] Cruzeiro Novo é um bairro residencial com prédios de até quatro andares.

[3] Quando fui morar em Campinas, em 1980, tive a satisfação de conhecer a fábrica da Campineira.

[4] Como se vê, a ideia de que o consumidor toma decisões racionais, visando minimizar gastos e maximizar ganhos, é um pressuposto da economia clássica acessível às crianças.

[5] A rigor, as corporações fazem algo ainda pior: drenam para si os recursos do estado.

* Felipe A P L Costa é biólogo e escritor; autor, entre outros, de O que é darwinismo (2019). (Para conhecer outros artigos ou obter amostras de livros do autor, ver aqui)

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Última Atualização: 04/07/2024