
Por Carolina Bataier/ Equipe de texto da 5ª Feira da Reforma Agrária
Da Página do MST
A vinagreira, também conhecida como cuxá, é uma planta que, no Maranhão, nasce em todo canto. “Todos os nossos assentamentos tem cuxá, e onde jogam a semente, nasce que é uma beleza”, conta Simone Silva Pereira, agricultora e educadora popular, moradora do assentamento Cristina Alves, em Itapecuru (MA).
A planta é o ingrediente que dá sabor ao arroz de cuxá, servido com camarão seco, um dos mais de 100 pratos do espaço de Culinária da Terra, na 5ª edição da Feira Nacional da Reforma Agrária, realizada no parque Água Branca, em São Paulo (SP).
No primeiro dia de evento, os visitantes já formavam fila na barraca maranhaense que, além do arroz de cuxá, tem peixe frito, bolinho de macaxeira e, para a sobremesa, creme de bacuri com molho de buriti.
“É feito com creme de leite e polpa do bacuri sem açúcar e o doce de buriti. A gente aquece ele para que ele vire uma calda que o dá um contraste entre o azedo do bacuri com o docinho do buriti”, conta Ana Almeida, moradora do acampamento Marielle Franco, em Açailândia (MA).
No evento pelo terceiro ano, Almeida define a feira como “maravilhosa”. “É uma oportunidade da gente mostrar a nossa culinária, o que a gente tem nas nossas regiões”, diz.
Eurides Maria Campos, do acampamento João Gomes, em Linhares (ES), participa da feira pela primeira vez e é uma das responsáveis pelos sabores da barraca do Espírito Santo. “Tem que ter amor e carinho para ficar tudo bom. E eu gosto de fazer”, diz.

Ela conta que o segredo do sabor da moqueca capixaba, além do peixe produzido nos assentamentos da região de onde ela vem, são os temperos frescos. “Bastante coentro, alho, cebolinha”, diz. No estande, além da moqueca, os visitantes encontram o bobó de camarão. “Isso aí é tudo produzido no acampamento”, ressalta a agricultora.
Entre doces e salgados, a 5ª edição da Feira Nacional da Reforma Agrária traz para São Paulo 23 cozinhas e mais de 100 pratos, “da culinária da terra, trazendo o sabor, o cheiro da roça, do campo, da agricultura camponesa”, como afirma Débora Nunes, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Quem aprecia os pratos do sul do país, vai encontrar uma novidade da barraca do Rio Grande do Sul. Neste ano, os gaúchos adicionaram ao tradicional arroz carreteiro a opção da chuleta na chapa, que é o lombo do boi em tirinhas.
Já no primeiro dia, os churrasqueiros comemoravam o sucesso da novidade. “Então, é um elemento a mais no carreteiro. Aqui pegou, no primeiro dia, já pegou”, conta Marildo Mulinari, conhecido por Tubiano, que veio do assentamento Integração Gaúcha, em Eldorado do Sul (RS).
Produtor de arroz orgânico e militante do MST há 33 anos, ele participou de todas as edições do evento. “A feira é a expressão do que é a reforma agrária no Brasil, né? A produção de alimento saudável, a ecologia, a defesa do meio ambiente”, diz.
Na hora do almoço, o agricultor abandonou a churrasqueira por alguns minutos para provar o acarajé da Bahia. “Amanhã a gente vai comer a bóia do Pará”, conta. “Essa é a riqueza da culinária da feira. É a diversidade”.
Opções veganas e vegetarianas
Fruto típico do cerrado, o pequi acrescenta sabor adocicado ao arroz. Juntos, arroz e pequi são uma alternativa vegetariana ao prato do Goiás, servido com galinha. A gueroba, espécie de palmito do cerrado, também entra na combinação sem carne.

“Tudo que a gente traz é de produção dos nossos acampamentos, assentamentos e é muito importante para poder mostrar o quanto a comida saudável tem importância na vida das famílias dos agricultores”, conta Teresa Stefany, do acampamento Dom Tomás Balduíno, de Formosa (GO).
No acampamento, os agricultores cultivam, entre outros alimentos, o milho usado nas pamonhas vendidas na feira, em opção doce, salgada e com alternativa vegana. “A gente faz com óleo de girassol, doce e salgado também”, explica Stefany.
Na barraca do Sergipe, o quiabo faz sucesso na tradicional quiabada, com diversos complementos, entre carne, frango, camarão e a opção vegana. “Na quiabada vegana vai a proteína de soja e as verduras”, conta Maria Gorete Ferreira Santos da Silva, do assentamento Vitória do São Francisco, em Porto da Folha (SE).
O prato é servido com arroz ou cuscuz, farofa, vinagrete ou salada de repolho e, de acordo com Silva, tem saído muito bem. “Pra mim é uma satisfação muito grande quando eu vejo uma pessoa dizer que a minha comida tava boa. Eu cozinho de coração, mesmo”, comemora. Coordenadora da cozinha, Silva está na feira pela quarta vez. “É um trabalho que faz a gente feliz”, diz.
Na feira, são dezenas de opções entre vegetarianas e veganas feitas com alimentos dos acampamentos e assentamos de todas as regiões do Brasil.
*Editado por Fernanda Alcântara