Feira Cícero Guedes debate alimentação saudável e combate à fome no Rio

Foto: Junior Araujo 

Por Gabrielly Preato
Da Página do MST

Nesta terça (9), a 16ª Feira Estadual Cícero Guedes realizou um encontro entre povos do campo, da cidade e das águas, reafirmando a importância da comida de verdade na construção de um país justo. O seminário “Alimentação Saudável e Combate à Fome: Avanços e Desafios” reuniu um grande público, entre eles as turmas de formação de Promotoras Populares em Saúde, Justiça Alimentar e Agroecologia e do projeto Agentes Populares em Saúde e Alimentação Saudável da UERJ, para um debate público sobre soberania alimentar com a participação de Janailson Almeida, dirigente do MST; Iyalorixá Roberta Costa, fundadora do ICAA (Instituto Cultural Águas do Amanhã); Carla Cruz do Projeto Periferia Viva; Alexandre Gollo, articulador da agroecologia do Rio de Janeiro; Geovanna Berti da Rede Agroecológica de Combate a Fome e a Juliana Coutinho, diretora nacional de Participação Social da Ação da Cidadania.

O combate à fome como caminho para a soberania nacional

Foto: Junior Araujo

Abrindo o debate, o dirigente do MST, Janaílson Almeida, destacou que o tema da alimentação saudável é central no movimento, especialmente diante da volta da fome ao país e do avanço do agronegócio sobre territórios e políticas públicas. Segundo ele, pensar comida de verdade não é um assunto técnico ou meramente nutricional: é uma questão de disputa política e de projeto de sociedade.

“Não é mais só a luta pela terra no MST. É a luta pela alimentação saudável. Precisamos fortalecer, no mesmo nível, a ocupação de terra e a produção de alimentos agroecológicos para o povo da cidade e do campo”, afirmou Janaílson.

Sua fala reforçou que enfrentar a fome passa pela retomada e ampliação de políticas estratégicas, como o PAA e o PNAE, pela reorganização produtiva nos assentamentos e pela construção de alianças com cozinhas solidárias, comunidades tradicionais, universidades e o SUS.

O dirigente também chamou atenção para a força articulada do modelo agroindustrial que une latifúndios, mineração, energia e controle das águas e que hoje disputa não apenas terras, mas também narrativa e mercado na agenda da alimentação saudável.
Janaílson lembrou que até setores do agronegócio começam a se apropriar da linguagem da agroecologia e dos orgânicos, tornando ainda mais urgente que o povo organizado se fortaleça, amplie suas escalas produtivas e reforce sua identidade política.

Territórios que alimentam: experiências concretas do campo e da cidade

Foto: Junior Araujo 

O seminário trouxe também relatos de experiências que vêm garantindo comida de verdade onde o Estado tem falhado. Cozinhas ancestrais de matriz africana, hortas comunitárias em favelas, quintais produtivos e unidades de produção agroecológica em assentamentos mostraram que o combate à fome nasce da organização popular.

Citando a parceria com o PAA, a Iyalorixá Roberta Costa destacou o impacto direto da produção camponesa:“Estamos conseguindo distribuir feijão de excelente qualidade para mais de 70 cozinhas ancestrais no estado. Alimentar é também garantir dignidade.”

Ao longo da mesa, ficou evidente que os avanços recentes, como a retomada de programas públicos, expansão de feiras agroecológicas, fortalecimento das cozinhas solidárias e redes de formação popular, ainda esbarram em velhas estruturas: ausência de crédito, fragilidade de políticas permanentes, disputa desigual com grandes empresas e violência contra territórios tradicionais. Os participantes apontaram caminhos: ampliar políticas públicas estruturantes; garantir recursos contínuos para agroecologia; fortalecer a educação do campo; criar sistemas territoriais de abastecimento; e consolidar alianças entre movimentos, universidades, SUS, quilombos, terreiros e favelas.

A mensagem central do seminário ficou clara: combater a fome é garantir terra, território, renda, autonomia e soberania alimentar para quem produz e para quem come.
Mais uma vez, a feira se afirmou como espaço político estratégico de denúncia, celebração e articulação. No Largo da Carioca, onde milhares circulam diariamente, o MST mostrou que a Reforma Agrária Popular é parte fundamental da solução para a fome no Brasil porque é feita de gente que planta, cura, organiza e transforma.

Semear a terra, alimentar os povos e defender a vida!

*Editado por Fernanda Alcântara

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