O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, deve manter inalterada a taxa básica de juros em sua reunião desta quarta-feira (7), fixada atualmente entre 4,25% e 4,50%.

Embora o encontro não deva trazer mudanças imediatas, economistas e agentes do mercado consideram que o cenário pode sofrer alterações significativas nos próximos meses, diante dos efeitos da política tarifária adotada pelo governo Trump e da resposta da economia norte-americana.

As tarifas impostas pela Casa Branca, consideradas as mais agressivas em décadas, têm provocado impactos em diversos setores.

Segundo relatos de empresas como McDonald’s, General Motors, Apple e Delta Airlines, a elevação dos custos de importação e a retração do consumo afetaram diretamente as receitas e projeções financeiras.

A corrida de empresas para antecipar importações contribuiu para um recuo inesperado de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no último trimestre.

Apesar da retração econômica, os gastos dos consumidores avançaram 1,8% no mesmo período. O mercado de trabalho também apresentou resiliência, com a criação de 177 mil empregos em abril, superando as expectativas em cerca de 40 mil vagas, conforme relatório do Departamento do Trabalho. A taxa de desemprego permaneceu estável em 4,2%.

Esses dados sustentam, por ora, a posição do Fed de aguardar mais clareza antes de alterar sua política monetária. No entanto, analistas avaliam que os desdobramentos das tarifas, especialmente após o pacote anunciado em abril pelo presidente Trump — apelidado de “Dia da Libertação” — e que incluiu tarifas de até 145% sobre produtos chineses, podem pressionar a instituição a rever suas decisões nos próximos trimestres.

Em declarações anteriores, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que espera ter “certeza” de que os aumentos de preços decorrentes das tarifas não gerarão inflação persistente. Essa postura é interpretada como um sinal de que o banco central dará prioridade ao controle inflacionário, mesmo diante de eventuais sinais de desaquecimento da atividade.

“Quando é que os formuladores de política têm certeza de alguma coisa?”, afirmou Derek Tang, economista da consultoria LHMeyer. Segundo ele, o uso do termo “certeza” sugere que o Fed continuará priorizando a estabilidade dos preços, a menos que haja deterioração visível no mercado de trabalho. A consultoria não projeta cortes na taxa de juros em 2025, a menos que esse enfraquecimento se confirme.

O cenário permanece indefinido também do ponto de vista institucional. A próxima atualização das projeções trimestrais do Fed ocorrerá somente em junho, o que aumenta a expectativa em torno da coletiva de imprensa de Powell após a reunião desta semana. Investidores e analistas aguardam possíveis sinais sobre o momento e a intensidade de uma eventual mudança de curso na política de juros.

As projeções divulgadas em março apontavam dois cortes em 2025, mas esse panorama vem sendo revisado em razão das novas medidas comerciais adotadas pela Casa Branca.

Segundo analistas do Barclays, o primeiro corte de juros pode ocorrer em julho, uma vez que isso permitiria tempo suficiente para avaliar os efeitos das tarifas e de um possível pacote de redução de impostos promovido por parlamentares republicanos.

A economista Nancy Vanden Houten, da Oxford Economics, destaca que o Fed se encontra em uma “posição delicada” diante da possibilidade de convivência entre inflação elevada e desaceleração econômica. Para ela, os primeiros cortes de juros só devem ocorrer no final do ano.

“Eles parecem estar mais distantes de alcançar sua meta de inflação. Enquanto o mercado de trabalho resistir, devem manter a postura atual”, afirmou.

Christopher Waller, um dos diretores do Fed, apontou que a instituição pode optar por dois caminhos: cortes graduais nos juros caso as tarifas sejam reduzidas, ou cortes mais acelerados se os encargos se mantiverem elevados. Segundo ele, uma alta de mais de 0,1 ponto percentual na taxa de desemprego em um único mês poderia motivar uma ação mais imediata.

Apesar dessas indicações, não se espera que Powell forneça diretrizes concretas nesta semana. “Esperamos que a principal mensagem da coletiva de Powell seja de que o Comitê está bem posicionado para aguardar maior clareza antes de mudar sua política”, avaliou Michael Feroli, economista-chefe do J.P. Morgan.

A postura cautelosa do Fed tem gerado críticas por parte da Casa Branca. O presidente Trump, por meio de publicações na rede Truth Social, voltou a pressionar por uma redução imediata dos juros. “NÃO HÁ INFLAÇÃO, O FED DEVERIA REDUZIR SUA TAXA!!!”, escreveu após a divulgação do último relatório de empregos.

Embora os índices recentes de inflação estejam moderados, tanto membros do Fed quanto analistas do setor privado esperam uma retomada da pressão inflacionária nos próximos meses, como consequência dos efeitos indiretos das tarifas sobre os preços.

A relação entre Trump e Powell continua tensa. O presidente norte-americano já cogitou substituir o titular do banco central, mas recentemente declarou que não pretende afastá-lo. O mandato de Powell termina dentro de aproximadamente um ano. O próprio presidente do Fed considera que uma destituição seria ilegal, e duas ações atualmente em análise na Suprema Corte dos Estados Unidos devem decidir se o presidente possui autoridade legal para demitir membros do banco central.

A reunião desta quarta-feira pode, portanto, marcar a última decisão de política monetária em um contexto de relativa estabilidade. A combinação entre tarifas, inflação e mercado de trabalho tende a colocar à prova a estratégia do Fed nas próximas reuniões.

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Last Update: 06/05/2025