Os canadenses vão às urnas nesta segunda-feira (28) para definir os 343 membros do parlamento. A partir da composição da Câmara dos Comuns é que se escolhe o novo primeiro-ministro do país. No atual cenário o favoritismo deve manter o poder dos liberais (centro-esquerda), condição que parecia descartada, mas que a postura do presidente Donald Trump modificou.
A votação começa às 10 horas (horário de Brasília) com os primeiros resultados na madrugada de terça. Ainda que se espere um clima de tranquilidade eleitoral, o final de semana no país foi marcado por uma tragédia (confira ao final).
Algumas pesquisas como a YouGov colocam que o partido Liberal pode até mesmo conquistar sozinho a maioria dos assentos parlamentares, o que desobrigaria seus membros a formarem uma coalizão com partidos menores para conseguir votos e apontar quem irá liderar o governo. No entanto, isto não será um empecilho para os liberais (se vencerem) dadas as composições já feitas com partidos de esquerda em governo anteriores.
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Caso a expectativa se confirme, o atual primeiro-ministro Mark Carney deverá permanecer no cargo barrando o avanço conservador que era dado como certo. Ele assumiu em março, após escolha dos membros do partido em votação, depois da renúncia de Justin Trudeau, em janeiro.
Pelo Partido Conservador o líder e candidato a primeiro-ministro é Pierre Poilievre. Também participam do pleito parlamentar o Bloc Québécois (Bloco Quebequense), NDP (Novo Partido Democrático) e o Partido Verde, além de candidatos independentes.
Fator Trump
O desgaste que levou Justin Trudeu à renúncia aconteceu ao passo que as pesquisas indicavam uma guinada conservadora. Ele estava no posto de primeiro-ministro desde 2015, sendo que neste tempo o seu partido venceu três eleições.
Trudeu não conseguia mais lidar com a insatisfação popular e a saída do NDP do governo determinou o fim da sua passagem. Nos últimos tempos os canadenses sofreram com inflação, aumento do custo de vida e a maior precarização dos serviços públicos por meio de uma agenda de austeridade. Neste aspecto, os altos preços cobrados em aluguéis e a questão imigratória também foram amplamente exploradas.
Os atos finais dele já aconteceram na sombra da volta de Trump ao poder nos EUA e a promessa de taxação de 25% sobre produtos importados, além da bravata sobre a anexação do país vizinho.
Quando tudo indicava que os liberais estariam em baixa por conta destes movimentos, a ascensão de Carney mudou o jogo. Com um discurso afiado e contraponto as medidas norte-americanas levadas à cabo, o novo premier conseguiu vender sua experiência no mercado financeiro como fundamental para enfrentar a crise interna e combater os desmandos vindos dos EUA.
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Um exemplo da postura combativa de Carney que ganhou a atenção dos canadenses foi a retaliação às taxas de Trump. Para se contrapor às medidas dos EUA o primeiro-ministro anunciou uma tarifa protecionista de 25% sobre veículos importados. Antes já havia sido anunciada postura similar sobre produtos de aço e alumínio.
Dessa maneira, as questões que levaram a queda de Trudeau ficaram em segundo plano, pois o enfrentamento às medidas de Trump se tornou a agenda número um do país. Quem passou a perder foi Pierre Poilievre e os conservadores, mais associados às ideias de Trump em um país com grande porcentagem de imigrantes e aberto ao multiculturalismo.
Tragédia em Vancouver
O final de semana foi marcado por uma tragédia em Vancouver. Um motorista avançou com o carro em uma multidão que participava de um festival. O atropelamento deixou mais de 30 vítimas e matou 11 pessoas. Entre as vítimas fatais uma brasileira: Kira Salim, 34 anos, natural do Rio de Janeiro.
O responsável pelas mortes ocorridas na noite de sábado (26) é Kai-Ji Adam Lo, de 30 anos. Ele está preso e responderá pelos homicídios e ferimentos nas demais vítimas. As informações iniciais indicam que ele tem problemas de saúde mental e já possuía antecedentes criminais.
Por conta dos fatos, Carney cancelou agendas de campanha no domingo (27). Pelas redes sociais, ele e Poilievre lamentaram a tragédia. Analistas apontam que é imprevisível prever se o acontecimento na véspera da eleição terá impacto e o poder de causar alguma grande mudança no quadro que estava se definindo.