
A família do pianista brasileiro Tenório Cerqueira Júnior, identificado oficialmente no último sábado (13), divulgou nota de alívio pela confirmação, mas também pede mais respostas sobre a morte que não tinha nenhum envolvimento político.
“De alguma maneira, estaremos mais próximos. Tristeza pela confirmação de que Tenório foi vítima da violência e enterrado como um desconhecido, longe da família, dos amigos, dos parceiros de música“, informa a nota.
Para os cinco filhos, será necessária uma nova investigação sobre o caso. “Quem matou Tenório? Por quê? Por que matar um homem sem nenhum envolvimento político, que só vivia para a música? Durante anos ouvimos versões, histórias que agora se revelam falsas.”
O brasileiro desapareceu em Buenos Aires na madrugada do dia 18 de março, poucos dias antes do golpe de estado que derrubaria María Estela Martinez Perón da presidência da Argentina e instalaria uma ditadura militar no país.
A partir de informações da Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), por ordem da Cámara Federal de Apelaciones en lo Criminal y Correccional de la Capital Federal de Buenos Aires, foi possível estabelecer a confirmação da morte e o destino do corpo de Francisco Tenório Cerqueira Júnior.
Para isso, foram comparadas as impressões digitais de um cadáver de um homem morto por disparos de arma de fogo, encontrado em um terreno baldio na região de Tigre, próxima a Buenos Aires, no dia de 20 de março de 1976.
Francisco Tenório Júnior, na década de 1970 já era um dos pianistas mais respeitados por seus pares no Brasil, participando de vários festivais e turnês no país e no exterior, além de ter trabalhado com Toquinho e Vinícius de Moraes em uma turnê pela América do Sul.
Leia a nota da família de Tenório na íntegra:
“Recebemos a notícia da identificação do corpo de nosso pai com surpresa, claro, e um misto de alívio e tristeza. Alívio porque, finalmente, podemos saber com mais segurança o que aconteceu com ele naquele triste março de 1976. De alguma maneira, estaremos mais próximos. Tristeza pela confirmação de que Tenório foi vítima da violência e enterrado como um desconhecido, longe da família, dos amigos, dos parceiros de música.
Um pianista de apenas 35 anos, respeitado em seu meio, pai de cinco filhos, que foram privados de sua convivência, obrigando nossa mãe a criar sozinha cinco crianças, de 8, 7, 5 e 4 anos, além de uma que não chegou a conhecer o pai. Nasceu um mês depois do desaparecimento. Tenório não conheceu o filho caçula nem os oito netos.
Durante muito tempo, mesmo sabendo que era improvável, alimentamos a esperança de revê-lo. De que um dia a porta da casa se abrisse e ele entraria. O “Papú”, como o chamávamos. Com o tempo, compreendemos que não teríamos mais respostas. Que teríamos que conviver sem saber o que aconteceu de fato. É um choque saber que ele estava lá o tempo todo.
Nesta hora, lembramos principalmente da nossa mãe, Carmen, que cuidou de nós e nos protegeu de todas as formas que uma mãe poderia fazer. Que encarou dificuldades para nos criar, enfrentou tudo, chegou a ir à Argentina, prestou depoimentos às autoridades. Que nos ensinou a ter autonomia, responsabilidade, a cuidar das nossas vidas. É o que fazemos todo dia, honrando sua memória.
Ainda queremos e precisamos de respostas. Quem matou Tenório? Por quê? Por que matar um homem sem nenhum envolvimento político, que só vivia para a música? Durante anos ouvimos versões, histórias que agora se revelam falsas.
Agradecemos ao EAAF por essa descoberta depois de quase meio século. É preciso que seja feita uma nova investigação. Em nome da memória que não pode se perder. Esperamos que, desta vez, as autoridades possam nos dizer o que aconteceu. A dor não irá embora nunca, mas a justiça pode trazer conforto.
Elisa Andrea Tenório Cerqueira, Francisco Tenório Cerqueira Neto e Margarida Maria Tenório Cerqueira”
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