Morto ontem, aos 87 anos, o empresário João Silva foi o retrato acabado do lobista efetivamente influente. Como assessor da empreiteira Construtora ABC, atravessou vários governos mantendo a mesma influência.
A história abaixo me foi contada por Carlos Oliveira, um ex-executivo do Banco Nacional, nomeado presidente do Banco do Brasil por Fernando Collor.
Com Collor sob fogo intenso do Congresso, podendo ser cassado, Carlos entrou em contato com Silva, procurando formas de defesa. Silva o levou a dois políticos influentes: o governador mineiro Antônio Fernando Coutinho e o ex-governador José Sarney.
Foi feita então uma negociação. Silva definia quais as obras federais que eram de interesse da Construtora ABC, montavam uma ata com as condições exigidas e garantia-se o apoio das bancadas de ambos contra o impeachment.
Com o acordo firmado, Carlos entregou o envelope a Collor. Um mês depois, entrou novamente na sala da presidência, e o envelope estava lá, intocado. Collor rendera-se a uma depressão, que tirou dele qualquer capacidade de iniciativa.
Tempos depois, entrevistei Collor e indaguei quais os motivos para ele ter entrado em depressão. Disse-me que foi o afastamento da Ministra Maria Helena Chagas e sua equipe. Não entendi. Maria Helena foi uma das ministras da Fazenda mais medíocres que conheci em toda minha vida profissional. Mas Collor disse que a juventude do grupo transmitia uma química que o estimulava.
Aliás, quando saiu o livro de memória de Maria Helena, constatei que participei de seu último ato. Maria Helena passou a ser alvo dos irmãos Paulo Miranda e José Batista de estreitas ligações com o malufismo – ambos foram responsáveis pelo Dossiê Cayman e outras armações, em geral divulgadas pelo jornalista Luís Nassif na Folha.
Quando soube, denunciei as manobras. Aí recebi um telefonema da Maria Helena agradecendo o apoio. Gentimente, informei que não havia apoio algum a ela: eu apenas estava denunciando manobras de dois peso-pesados.
Em seu livro ela menciona a consulta a um jornalista e a conclusão de que não teria apoio entre os jornalistas. Foi o capítulo final, que a fez pedir demissão.
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