Empresas chinesas de robótica demonstraram confiança e resistência às tarifas dos Estados Unidos durante a Feira de Cantão, a maior exposição comercial da China, destacando o apelo competitivo e tecnológico de seus produtos mesmo em meio à guerra comercial entre os dois países.
No evento, compradores se aglomeraram ao redor de um café automatizado controlado por braços robóticos. O produto, desenvolvido pela Dolphin Robot Technology, acumulou pedidos de 8 milhões de yuans (US$ 1,1 milhão) nos dois primeiros dias. “A procura nos surpreendeu”, afirmou Han Zhaolin, fundador da empresa. “Compradores do Vietnã ao Oriente Médio demonstraram grande interesse.”
Apesar da escalada das tarifas, que ultrapassam 120% nos dois sentidos, Han disse que sua empresa não sofreu impactos. “Não arcamos com as tarifas e também não reduzimos preços, porque os consumidores dos EUA têm demanda rígida. Não há nada parecido produzido nos EUA, Alemanha ou Japão — e os produtos semelhantes da Coreia do Sul custam o dobro.”
A experiência de Han reflete uma tendência mais ampla na feira. Robôs de limpeza de arranha-céus, membros biônicos e outros dispositivos inteligentes fabricados na China estão se mostrando imunes aos efeitos da guerra tarifária. Muitos produtos são compostos por peças desenvolvidas localmente, sem impacto das tarifas de importação, e são vendidos a preços muito inferiores aos similares europeus ou americanos.
A Zhejiang Qiangnao Technology, por exemplo, está avançando com a venda de próteses inteligentes nos EUA, mesmo com as tensões comerciais. Os dispositivos da empresa, controlados por algoritmos de interface cérebro-computador, já receberam certificação da FDA e são cobertos por seguros médicos americanos. Com preço de US$ 50 mil, ainda são competitivos mesmo com as tarifas atuais. “São de um quinto a um sétimo do valor de produtos ocidentais”, disse Pan Siyu, representante da empresa.
A Lingdu Intelligent Tech, com sede em Guangzhou, foi premiada na feira com um robô autônomo de limpeza de arranha-céus. A máquina opera até 500 metros de altura, sem necessidade de tubulação externa, e resiste a furacões de força 12. “Concorrência é praticamente inexistente”, disse Chen Sihong, diretor de vendas da empresa. Os robôs da Lingdu já são vendidos em mais de 20 países, com exportações representando até 80% das vendas totais.
O custo reduzido é um atrativo. Enquanto a limpeza de fachadas pode custar US$ 2 por metro quadrado no exterior, o robô realiza o serviço por apenas 2 yuans (US$ 0,27). “O investimento se paga com um ou dois prédios limpos. Ele pode operar 24 horas por dia, com vida útil de até oito anos.”
Para muitos compradores, o custo operacional das soluções chinesas é decisivo. O café automatizado da Dolphin Robot, por exemplo, funciona em apenas 2,5 metros quadrados, prepara mais de 50 tipos de bebidas em 50 segundos, e tem consumo elétrico de apenas 300 a 500 yuans por mês — contra 10 mil yuans gastos mensalmente por um café tradicional nos EUA.
“O robô pode ser controlado por um celular, se autoconserta em 90% dos casos e opera por até 10 anos sem necessidade de contratação de pessoal”, explicou Han. “Para nós, a guerra comercial pode até ser uma oportunidade. Ela desperta a curiosidade e incentiva compradores estrangeiros a testar os novos produtos tecnológicos da China.”
He Huifeng
He Huifeng é jornalista premiada e cobre a China desde 2001, com profundo conhecimento em temas políticos, econômicos e sociais.
24 de abril de 2025
South China Morning Post