A polícia do Reino Unido anunciou mais de 90 detidos em uma série de protestos de extrema direita que eclodiram no país desde a última segunda-feira.
Segundo um porta-voz governamental, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, prometeu total apoio às forças da ordem contra os “extremistas” que tentam “semear o ódio” e afirmou que a liberdade de expressão e a agitação violenta são duas coisas diferentes.
Alguns meios de comunicação identificaram cerca de 30 manifestações de extrema direita que estavam previstas para ocorrer neste fim de semana no país.
As tensões começaram após um jovem de 17 anos ter entrado num centro recreativo de Southport, na última segunda-feira, onde decorria um “workshop” de música com o tema ‘Taylor Swift’, e ter matado três mulheres e ferido outras oito crianças e dois adultos.
Em razão da idade do autor do crime, a Justiça britânica e a imprensa local não divulgaram inicialmente o nome do suspeito. Isso abriu um vácuo para que teorias conspiratórias e a desinformação fossem usadas para insuflar um surto de ataques e a mobilização de massas.
A partir daí, um nome falso de um suposto suspeito passou a circular por grupos de extrema direita, indicando que ele seria um refugiado muçulmano. Em pouco minutos, ele era mencionado 30 mil vezes por mais de 18 mil contas na plataforma X, de acordo com o Institute for Strategic Dialogue (ISD).
O nome inventado era um falso nome, supostamente um imigrante muçulmano que chegou no Reino Unido em um pequeno barco em 2023. Nada disso era verdade, no entanto, e o nome teve pelo menos 27 milhões de visualizações e interações nas redes sociais, desde então.
No sábado, as manifestações organizadas em várias cidades terminaram com confrontos entre manifestantes e policiais, bem como com grupos de contramanifestantes mobilizados por associações antirracistas. Autoridades da região afirmaram que vários policiais ficaram feridos. Quase 100 pessoas foram detidas até o momento, sendo pelo menos 23 em Liverpool, 20 em Hull, 20 em Blackpool e 14 em Bristol.
Um mês após assumir o poder, o governo trabalhista do primeiro-ministro Keir Starmer enfrenta a sua primeira crise. Ele agora tenta convencer o país de que é capaz de conter as ações violentas.
Questionada sobre a possibilidade de recorrer ao Exército, a ministra encarregada da polícia, Diana Johnson, assegurou que as forças “têm todos os recursos necessários”.
O chefe assistente de polícia Alex Goss classificou o comportamento dos manifestantes como “deplorável” e afirmou que o impacto da desordem será “devastador”, mas que os agentes de segurança estão “fazendo de tudo para prender os envolvidos e levá-los à Justiça”.
Nas manifestações, organizadas sob o lema “Enough is enough”, os participantes gritam slogans anti-imigração e islamofóbicos enquanto bandeiras britânicas são agitadas.
Embora as condenações à violência sejam unânimes, com o passar dos dias, começam a surgir críticas oportunistas ao governo. A ex-ministra conservadora do Interior, Priti Patel, disse que o governo “corre o risco de parecer arrastado pelos acontecimentos em vez de manter o controle”.