Por Altamiro Borges
O “capitão” Jair Bolsonaro perdeu a disputa presidencial em 2022, mas o bolsonarismo – como expressão do neofascismo – segue com muita força na sociedade. Prova disso é o trágico resultado das eleições para o Conselho Federal de Medicina (CFM) na semana passada. A extrema direita foi vencedora em 18 dos 27 estados brasileiros. Entre os conselheiros eleitos, vários defensores da ineficiente cloroquina no combate à Covid-19, militantes contrários ao aborto legal e apoiadores dos atos golpistas do 8 de janeiro de 2023.
O CFM é um órgão estratégico na questão da saúde. Ele é responsável por fiscalizar a atividade médica em todo o país e colaborar com o governo na formulação de políticas e programas. Também ajuda a definir a conduta dos profissionais no atendimento à população – como fez com o parecer favorável ao uso da cloroquina contra a Covid-19 e com a resolução que dificultava o aborto legal após 22 semanas de gestação. Essas e outras funções específicas do CFM mostram a gravidade do resultado eleitoral em vários estados.
Apoio do Véio da Havan e de Nikolas Ferreira
Em São Paulo, por exemplo, os médicos elegeram o infectologista Francisco Cardoso, que priorizou em sua campanha a “defesa intransigente” contra o direito ao aborto. Ele se apresentou como candidato da “direita conservadora” e teve o apoio de vários líderes bolsonaristas, como o empresário Luciano Hang, o “Véio da Havan”, o ex-ministro da Saúde do covil fascista, Marcelo Queiroga, e o abjeto deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Sua campanha foi das mais sujas, com farta utilização de fake news.
A chapa da pediatra Melissa Palmieri, que ficou em segundo lugar, inclusive questiona o resultado do pleito. Em ação judicial, ela apresentou relatório da apuração e afirmou haver divergências entre o número de eleitores e a quantidade de votos computados. Antes da eleição, ela já havia denunciado a campanha de baixarias espalhadas pela chapa bolsonarista, apresentada como “a única anti-Lula” na eleição do CFM.
PL dos Estupradores e atos golpistas
Já no Rio de Janeiro, o eleito foi o ginecologista Raphael Câmara Medeiros Parente, relator da norma do CFM que proibia os médicos de realizarem a assistolia fetal em casos de aborto decorrente de estupro. O procedimento é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para interromper gravidezes avançadas. A norma foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em maio último, mas serviu de base para o famigerado PL dos Estupradores, derrotado na Câmara Federal após intensa pressão popular.
A conselheira eleita pelo Distrito Federal foi a médica Rosylane Nascimento das Mercês Rocha, que como vice-presidente do CFM festejou nas redes digitais os atos terroristas em Brasília do 8 de janeiro de 2023. Por pressão de um abaixo-assinado com mais de 6.000 adesões pedindo seu desligamento da profissão, o conselho até abriu um processo administrativo contra ela no ano passado, que não deu em nada.
Outro reeleito foi o atual presidente do CFM, José Hiran da Silva Gallo, por Rondônia. Ele encabeçou a resolução contra a assistolia fetal e defende a indução do parto e entrega de filho de estupro para adoção. Em 2018, o fascistoide postou artigo no site do CFM em que comemorou a vitória de Jair Bolsonaro e atribuiu os votos dados ao PT “à existência de um quadro agudizado pela carência e pela dependência de políticas de governo, como o Bolsa Família”. Na atual gestão do Ministério da Saúde, ele tem esperneado contra a obrigatoriedade da vacinação de crianças contra a Covid-19.