Antes dividido entre a coalizão de centro-direita Aliança Democrática e do Partido Socialista, Portugal viu, no último domingo (18), a consolidação de uma terceira via: o Chega, partido de extrema-direita, que empatou com os socialistas.
O primeiro-ministro Luís Montenegro conseguiu se reeleger com vantagem, apesar de ser derrubado por um escândalo relacionado à família.
Montenegro conta com 86 parlamentares de direita, mas não conseguiu os 116 assentos no Parlamento para governar de forma estável. Com isso, terá de conquistar o apoio dos socialistas, que elegeram 58 deputados, ou do Chega, que também dispõe de 58 eleitos.
O primeiro-ministro reeleito chegou a negar uma aliança com o Chega caso fosse eleito durante a campanha. Mas, diante do resultado da preferência popular, ele não só admitiu a possibilidade como também endureceu seu discurso, posicionando-se contra a imigração e estabelecendo a segurança como prioridade de governo.
Chega
O partido de extrema-direita português tem apenas cinco anos. No entanto, galgou belos resultados na eleição, enquanto os socialistas e partidos de esquerda amargam queda de preferência entre os eleitores.
Mas análise da CNN Portugal demonstra que, apesar de guinar à direita, a direita não é unida – o que abre espaço para que o Chega explore a desunião e cresça na preferência popular.
Com um discurso anti-imigração e contrário aos direitos dos LGBTQIA+, o Chega repete o feito de partidos extremistas em outros países ao conquistar os eleitores que já não acreditavam na política e, consequentemente, não votavam. Ele acolhe ainda os descontentes, os descrentes, os inconformados, os incompreendidos.
Mas em Portugal, o partido conquistou também os eleitores mais jovens – diferente do que ocorre no Brasil, em que o público mais novo tende a votar em candidatos progressistas.
Além de ser responsável pela baixa da queda de abstenção nas últimas duas eleições, o Chega disputa ainda os eleitores “com baixos rendimentos”, até então alvos dos socialistas. Assim, a esquerda perdeu mais de 600 mil votos no último pleito.
Em entrevista à CNN Portugal, a especialista em Sociologia Política Paula Espírito Santo resume o cenário como uma fadiga eleitoral que pode prejudicar o Partido Socialista, que beneficia quem se diz “contra o sistema” e promete fazer diferente do que foi feito nas últimas décadas.
Discurso anti-Lula
O líder do Chega, André Ventura, afirmou em vídeo que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não passaria do aeroporto se ele fosse eleito. Caso insistisse em entrar no país, seria preso.
Após o avanço do Chega no Parlamento, o vídeo voltou a viralizar nas redes sociais desde domingo. E, graças aos 58 deputados eleitos do Chega, internautas acreditam que o chefe de Estado brasileiro não será bem-vindo no país.
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