Compradores estrangeiros aumentaram as aquisições de terras raras da China nos meses que antecederam a implementação de novos controles de exportação por parte de Pequim.

Os dados foram divulgados por autoridades chinesas em meio ao prolongamento das tensões comerciais com os Estados Unidos e à manutenção da dependência global das cadeias produtivas chinesas.

O volume de exportação de elementos de terras raras alcançou 5.600 toneladas em março, o maior nível registrado em nove meses.

O número representa um aumento de 20,3% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Em abril, as exportações diminuíram para 4.785 toneladas, mas ainda apresentaram alta anual de 4,8%.

As exportações de metais de terras raras classificados como de nicho, como escândio e ítrio metálico, cresceram 20,9% em abril em comparação com o mesmo período de 2023, totalizando 525,5 toneladas. Esse volume foi 39,9% superior ao registrado no mês anterior.

No mesmo período, os embarques de óxido de disprósio, usado na fabricação de barras de controle para reatores nucleares, aumentaram 24,1% em comparação anual, totalizando 5,16 toneladas.

No dia 4 de abril, o governo chinês incluiu sete elementos — samário, gadolínio, térbio, disprósio, lutécio, escândio e ítrio — na lista de substâncias sujeitas a controle de exportação. A decisão ocorreu dois dias após o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a imposição de “tarifas recíprocas”.

As autoridades chinesas não divulgaram dados específicos sobre as vendas externas de cada um dos elementos restritos. Em relatório recente, analistas do China Development Bank Securities avaliaram que “o domínio da China em terras raras provavelmente continuará no futuro previsível, pois decorre de sua forte manufatura e de suas cadeias industriais completas”.

Ainda segundo o documento, esforços do Ocidente para criar sistemas paralelos levariam anos, mesmo com a busca por alternativas por meio de aquisições territoriais ou parcerias internacionais.

Apesar de possuir reservas consideráveis de terras raras, os Estados Unidos não contam com capacidade instalada de fundição nem com infraestrutura de refino desses elementos, o que mantém a dependência de importações chinesas.

Essa assimetria tem sido apontada por analistas como uma ferramenta de pressão geoeconômica similar às restrições aplicadas por Washington à exportação de semicondutores avançados.

Em Genebra, uma trégua comercial de 90 dias foi estabelecida recentemente entre China e Estados Unidos. Após o acordo, o governo chinês informou que suspenderia medidas não tarifárias impostas desde o dia 2 de abril. No entanto, Pequim não respondeu a questionamentos sobre o futuro das restrições à exportação de terras raras.

No início de maio, o governo chinês anunciou o reforço das medidas de combate ao contrabando de minerais considerados estratégicos. Entre as ações previstas estão o aumento da fiscalização sobre cadeias produtivas a montante e o endurecimento contra práticas ilegais como o transbordo de carga.

Fontes ouvidas pelo South China Morning Post informaram que usuários finais, especialmente aqueles que dependem de ímãs permanentes fabricados com elementos raros, solicitaram apoio ao governo dos Estados Unidos para recompor estoques.

No atual cenário regulatório, as alfândegas da China exigem certificados que comprovem a ausência de elementos sujeitos a controle nas remessas. As licenças de exportação são concedidas em lotes, e cada pedido leva, no mínimo, 45 dias úteis para ser aprovado.

Embora o volume total de exportações tenha se mantido elevado em abril, a aplicação das novas regras afetou setores específicos. As exportações de ímãs permanentes, que contêm traços de elementos controlados, caíram 45,1% em relação ao mesmo mês de 2023, somando 2.626,7 toneladas. Na comparação com março, a queda foi de 50,7%.

Os ímãs permanentes são utilizados em diversos equipamentos eletrônicos, como motores elétricos e discos rígidos. A redução no volume exportado tem gerado atrasos na cadeia de produção de empresas estrangeiras, especialmente nos Estados Unidos, que dependem desses componentes.

Diante do impacto comercial das restrições e da sensibilidade estratégica do tema, analistas preveem que o comércio de terras raras será um dos principais pontos de negociação nas futuras conversas bilaterais entre Pequim e Washington.

Segundo informou a agência Cailian Press, autoridades chinesas aprovaram recentemente licenças de exportação para ao menos seis empresas locais do setor de ímãs. No entanto, o processo de análise se tornou mais rigoroso, o que tem alongado os prazos para liberação de cada remessa.

O controle sobre a exportação de terras raras integra uma estratégia mais ampla do governo chinês para consolidar sua posição em cadeias industriais críticas. Ao mesmo tempo, os países importadores seguem buscando alternativas e rotas de fornecimento fora da dependência chinesa. O desfecho das negociações comerciais em andamento poderá redefinir a estrutura do mercado global desses insumos nos próximos anos.

Com informações da SCMP

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Last Update: 21/05/2025