A suspensão das exportações brasileiras de carne de frango por parte de países importadores, após a confirmação de um foco de gripe aviária, poderá gerar perdas entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão ao agronegócio nacional nos próximos 12 meses.

A estimativa é do economista Fábio Silveira, sócio-diretor da consultoria MacroSector, conforme divulgado em reportagem da revista Globo Rural.

Segundo Silveira, o episódio impacta diretamente a reputação do Brasil como principal exportador global de carne de frango. Embora a contaminação esteja restrita e não envolva riscos sanitários aos consumidores, o incidente gerou reações imediatas no comércio exterior e pressões por parte de concorrentes em mercados estratégicos.

“A contaminação está restrita e não afeta a carne, mas isso acaba afetando a imagem do maior exportador mundial. Denúncia uma suposta falta de controle. O setor é altamente privatizado, e a contaminação ocorreu sob os olhos da iniciativa privada. Foi um tiro no pé”, afirmou o economista.

O foco de gripe aviária, detectado pouco após o retorno do presidente brasileiro de uma viagem à China, resultou em medidas cautelares por parte de países importadores, entre eles importantes parceiros comerciais.

A principal crítica feita por Silveira recai sobre a condução da comunicação oficial a respeito do caso. “Morreram 17 mil aves. O presidente estava na China, e o episódio primeiro foi informado de forma mais ágil. Se isso aconteceu, não pareceria uma tentativa de esconder o problema”, declarou.

Para o economista, a demora na divulgação contribuiu para ampliar os danos reputacionais e permitiu que países concorrentes pressionassem importadores com o objetivo de ocupar o espaço deixado pelas exportações brasileiras.

“É um cenário bastante desconfortável. O presidente tinha acabado de voltar da China, e a notícia veio como um incidente infeliz. Era algo que poderia ter sido tratado com mais transparência e, quem sabe, até abordado diplomaticamente”, avaliou.

A consequência imediata da suspensão será a destinação da carne de frango ao mercado interno, o que, segundo Silveira, deverá provocar redução nos preços e diminuição das margens de lucro dos produtores.

“A exportação vai ser redirecionada para dentro. Com isso, o preço vai cair, o que reduz a rentabilidade do produtor justamente num ano em que o milho — principal insumo — deve subir 22% ou 23%, diante da escassez global.”

Apesar de oscilações pontuais no preço do milho, a expectativa da MacroSector é de que os custos médios de produção sigam elevados até a chegada da nova safra no final do ano. O cenário se agrava com a alta nos custos financeiros enfrentados pelo setor, em um ambiente de crédito restrito e juros elevados.

“A pressão sobre a rentabilidade vai ser intensa. O produtor vai ter que continuar produzindo para honrar compromissos garantidos — com fornecedores de milho, soja, com a mão-de-obra. Mas vai vender mais barato e com custo mais alto”, observou.

Além da elevação nos custos operacionais, o setor enfrenta um ambiente macroeconômico adverso. Silveira destaca o impacto da taxa básica de juros, que se mantém próxima de 15%, sobre o capital de giro dos produtores. “O capital de giro está caro. Os juros seguem altos, com taxa básica perto de 15%. Vai ser um ano para esquecer”, disse.

A projeção da consultoria é de que o setor de avicultura enfrente dificuldades prolongadas, mesmo com o ciclo produtivo relativamente curto. A avaliação é de que será necessário reorganizar a produção, ajustar a oferta e retomar gradualmente a confiança dos mercados internacionais.

“Será preciso investir na segurança da imagem do setor, enquanto o governo e a indústria precisam agir rapidamente para reverter os embargos e retomar os mercados”, afirmou o economista.

Diante das medidas de contenção adotadas e do cenário de substituição de fornecedores nos mercados internacionais, o episódio acendeu um alerta para o setor.

A avaliação é de que falhas na resposta inicial contribuíram para um desgaste que poderia ter sido mitigado com maior agilidade e transparência por parte das autoridades competentes.

A repercussão internacional do foco de gripe aviária, mesmo sem risco direto à saúde dos consumidores, reforça a sensibilidade do comércio global a incidentes sanitários e destaca a necessidade de protocolos rigorosos de comunicação e gestão de crises em setores estratégicos para a economia nacional.

Com o mercado externo parcialmente fechado e o consumo interno incapaz de absorver integralmente o excedente, os próximos meses deverão ser marcados por retração nas margens de lucro, reestruturação operacional e esforços diplomáticos para retomada das exportações. Enquanto isso, os impactos financeiros sobre produtores e exportadores nacionais seguem sendo monitorados por analistas do setor e representantes da cadeia produtiva.

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Last Update: 19/05/2025