O dólar, após iniciar o dia em alta, perdeu força ao longo da jornada e fechou em queda, refletindo a combinação de fatores no mercado externo e interno.
A moeda norte-americana registrou leve recuo de 0,13%, encerrando o dia a R$ 5,5626, o menor valor de fechamento do ano de 2025. Este é também o menor valor desde 8 de outubro de 2024, quando a cotação do dólar terminou em R$ 5,5334.
Com isso, a divisa dos Estados Unidos acumula uma perda de 9,98% no ano. No mercado futuro, o dólar para julho, o contrato mais negociado no Brasil, recuou 0,11%, para R$ 5,5860, às 17h25.
Externamente, o dólar sofreu uma queda diante das negociações comerciais entre os Estados Unidos e a China, o que contribuiu para um movimento de desvalorização da moeda americana frente a outras divisas. Esse cenário exerceu pressão sobre a relação dólar/real, com a volatilidade aumentada pelo cenário interno.
Internamente, o noticiário fiscal também foi fator relevante para o comportamento da moeda. O governo brasileiro tem formulado uma série de medidas fiscais que impactam diretamente o mercado.
No domingo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que havia fechado um acordo com líderes do Congresso para ajustar o decreto que aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no mês passado. A “recalibração” do IOF traz mudanças significativas para a tributação de alguns ativos financeiros.
Uma das principais propostas envolve a cobrança de 5% de Imposto de Renda sobre títulos que atualmente são isentos, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e debêntures incentivadas.
Esses títulos são usados para financiar atividades nos setores imobiliário, agronegócio e infraestrutura. Outra medida propõe o aumento da tributação sobre empresas de apostas, passando de 12% para 18% sobre o faturamento após a dedução de prêmios e Imposto de Renda.
Além disso, o governo planeja uma alíquota unificada de 17,5% para o Imposto de Renda sobre rendimentos de aplicações financeiras, incluindo ações e renda fixa, atualmente com alíquotas que variam de 15% a 22,5%, dependendo do ativo e do prazo de aplicação. Também está em discussão a redução de incentivos tributários, com uma proposta de corte mínimo de 10% nos benefícios que não são previstos na Constituição.
Apesar do anúncio, detalhes sobre a implementação da redução de incentivos tributários e as mudanças nas alíquotas do IOF ainda são escassos. O mercado se manteve cauteloso, aguardando uma maior clareza sobre os efeitos dessas medidas nas finanças públicas e nos ativos financeiros.
No mercado à vista de câmbio, a cotação do dólar oscilou significativamente ao longo do dia. Pela manhã, o dólar chegou a marcar uma cotação mínima de R$ 5,5516, com uma queda de 0,33% às 9h07. No entanto, logo depois, a moeda se apreciou, atingindo a máxima de R$ 5,6000, com uma alta de 0,54% às 10h29, impulsionada pelas expectativas relacionadas às medidas fiscais.
Ainda que o movimento positivo tenha ocorrido no início da manhã, a tendência negativa predominou no restante do dia, refletindo o viés internacional de desvalorização do dólar e a incerteza sobre o impacto das medidas fiscais no Brasil. Os investidores mantiveram cautela, evitando tomar posições mais arriscadas até que o impacto das mudanças propostas pelo governo se torne mais evidente.
No cenário externo, o índice do dólar, que mede o desempenho da moeda frente a uma cesta de seis divisas, caiu 0,13%, situando-se em 98,985 às 17h20. A moeda norte-americana também recuou frente ao iene, euro e libra esterlina.
No Brasil, o Banco Central realizou a venda de 35.000 contratos de swap cambial tradicional, com o objetivo de rolar o vencimento do contrato de swap cambial de 1º de julho de 2025, uma medida destinada a controlar a volatilidade do mercado cambial e evitar movimentos abruptos na cotação do dólar.
Com os investidores atentos às movimentações fiscais e ao cenário internacional, o mercado cambial deve continuar a reagir de forma volátil nos próximos dias, enquanto aguarda o avanço das propostas do governo e a definição de sua implementação.