O exército regular do Sudão anunciou que retomou nesta terça-feira (21) o controle total da capital, Cartum, expulsando as milícias paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF), que ocupavam a cidade há meses. Segundo o Comando Geral das Forças Armadas Sudanesas (SAF), Cartum, sua cidade gêmea Omdurman e a cidade de Cartum Norte (Bahri) estão agora “completamente livres de rebeldes”.
“Também renovamos nosso compromisso com nosso povo de continuar nossos esforços até que cada centímetro de nosso país seja libertado de todos os rebeldes, traidores e agentes” afirmou o general Abdel Fattah al-Burhan, líder de fato do Sudão e comandante das SAF.
A ofensiva final se concentrou na área de Salha, no sul de Omdurman, último grande reduto das RSF, onde os paramilitares mantinham uma das suas principais bases militares. As SAF avançaram progressivamente até tomarem a região nas primeiras horas da manhã.
Durante a operação, o exército sudanês recuperou armamentos utilizados pelas RSF, incluindo drones e sistemas eletrônicos de guerra. No entanto, mesmo com os avanços militares, o país segue dividido. As SAF controlam o norte, o leste e parte do centro do Sudão, incluindo Cartum, enquanto as RSF dominam vastas áreas do oeste, especialmente em Darfur.
Os combates continuam em El-Fasher, capital de Darfur do Norte, e ao longo das rotas de abastecimento em Kordofan. Em retirada, os mercenários da RSF têm atacado deliberadamente a infraestrutura nacional, utilizando drones contra instalações elétricas, como fizeram recentemente em Cartum e Porto Sudão.
A guerra civil no Sudão já dura quase três anos e provocou uma das maiores catástrofes humanitárias do século XXI. Estima-se que ao menos 150 mil pessoas foram mortas e mais de 12 milhões obrigadas a deixar suas casas. Há ainda inúmeros relatos de crimes de guerra e de perseguições étnicas cometidas por milícias armadas.
Em nota divulgada pela agência estatal SUNA, o governo sudanês denunciou o apoio dos Emirados Árabes Unidos (EAU) às RSF como “uma ameaça à segurança regional e internacional, especialmente no Mar Vermelho”. As autoridades prometeram reagir “por todos os meios, conforme o Direito Internacional”.
Rússia e Irã, por outro lado, apoiam o exército sudanês. O Irã tem sido um dos principais fornecedores de armas para as SAF desde o segundo semestre de 2023. Em troca, Teerã teria conquistado acesso estratégico ao Mar Vermelho, reforçando sua presença militar na região.