Em semanas recentes, o número de mortes em áreas de distribuição de comida em Gaza aumentou drasticamente. Foram 57 em 11 de junho, 59 em 17 de junho, e 50 nesta terça (24), de acordo com o Ministério de Saúde da Faixa de 365 km com mais de 2 milhões de habitantes. O jornal Hareetz, de Israel, apurou que o exército de seu país atirou deliberadamente em palestinos procurando ajuda humanitária nesses locais.

Atualmente, em Gaza, existem quatro centros de distribuição protegidos pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) e geridos por estadunidenses e palestinos. Eles são controlados pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF, em inglês), criada por Israel com apoio dos EUA, e começaram a operar na Faixa em maio desse ano. A organização é conhecidamente gerida por evangélicos estadunidenses próximos de Trump e Netanyahu e tem contratos com empresas privadas pouco transparentes.

No contexto de bloqueio total de Gaza, em que Israel impede a entrada de alimentos e outros produtos de subsistência na região, a esperança dos palestinos reside nesses centros para que eles possam se alimentar com frequência durante o genocídio perpetrado pelo estado judeu. Estima-se que dezenas de milhares de habitantes da Faixa vão todos os dias a esses locais.

O problema, além da gestão, é que não existe consistência nos centros de distribuição. Os palestinos não sabem quando eles abrem, e o horário pode mudar de um dia para o outro. Eles ainda ficam uma hora aberta por dia, e nada mais. Montes de gente acabam se formando na esperança de chegarem antes que a comida acabe.

Um soldado ouvido pelo Haaretz fala da crueldade perpetrada nesses centros: “No começo do mês, houve alguns casos em que uma mensagem rodou por aí falando que o centro iria abrir de tarde, e as pessoas apareceram logo cedo na manhã para serem os primeiros na fila da comida. Porque eles chegaram muito cedo, a distribuição foi cancelada nesse dia.”

19 tiroteios foram registrados nesses centros pela imprensa israelense no último ano. “É um campo de matança”, disse outro soldado. “Onde eu estava estacionado, entre uma e cinco pessoas eram assassinadas todos os dias. Eles são tradados como uma força hostil. Não existem medidas de controle de multidões, nem gás lacrimogêneo. Apenas fogo aberto com tudo possível: metralhadoras pesadas, lança-granadas e morteiros. E aí, quando o centro abre, o tiroteio acaba, e eles sabem que podem se aproximar. Nossa forma de comunicação é o tiro.”

“Gaza não interessa para ninguém mais,” disse um reservista que completou uma semana de serviço no norte da Faixa essa semana. “Virou um lugar com suas próprias regras. A perda de vida humana não significa mais nada. Não são nem mais “incidentes infelizes”, como eles costumavam dizer.”

O Brigadeiro-General Yehuda Vach teve seu nome citado diversas vezes nos testemunhos dos tiroteios em centros de ajuda humanitária. Ele foi o responsável por transformar o corredor Netzarim, que separa o norte do centro de Gaza, em uma rota mortal e impenetrável aos palestinos e também foi suspeito de mandar destruir um hospital na Faixa sem nenhuma autorização.

Um oficial da divisão de Vach disse que a decisão de abrir fogo em palestinos esperando por caminhões da ONU foi dele. “Essa é a política de Vach, mas muitos dos comandantes e soldados a aceitaram sem questionar. Os palestinos não deveriam estar lá, então a ideia é deixar o espaço vazio, mesmo que eles estejam apenas procurando comida”

Em um caso recente, algumas pessoas começaram a fugir de um centro após tiros de aviso, mas um soldado afirmou que as forças israelenses continuaram atirando nelas. “Se é um tiro de aviso, e nós vemos as pessoas voltando a Gaza, por que continuar atirando nelas?” Ele se pergunta. “Algumas vezes ouvimos que eles estão se escondendo, e que precisamos atirar em suas direções porque eles ainda não foram embora. Mas é óbvio que eles não podem fugir se nós atiramos na hora que eles se levantam.”

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Last Update: 27/06/2025