Enquanto a empresa alcança valor histórico, seus integrantes vendem ações em ritmo acelerado, indicando estratégia e possível cautela em meio à ‘euforia’ do mercado
Nos últimos doze meses, altos executivos e acionistas internos da Nvidia desfizeram-se de mais de US$ 1 bilhão em papéis da empresa — um movimento que revela tanto a euforia do mercado quanto estratégias pessoais de gestores da gigante de semicondutores. O CEO Jensen Huang encabeça as operações, realizando vendas após meses de inatividade, enquanto a explosão global por chips de inteligência artificial catapulta a companhia a patamares inéditos.
Onda de vendas coincide com máximas recordes
O ritmo das operações acelerou nas últimas semanas: só em junho, meio bilhão de dólares em ações foram liquidados, no mesmo momento em que os papéis da Nvidia batiam sucessivos recordes. A empresa, sediada em Santa Clara, transformou-se em uma das mais valiosas do planeta, com capitalização que supera US$ 3,8 trilhões — reflexo de seu domínio no fornecimento de processadores essenciais para sistemas avançados de IA.
Mas o caminho até aqui não foi sem obstáculos. Sanções comerciais entre EUA e China, somadas ao avanço de rivais asiáticos, chegaram a ameaçar a demanda por seus produtos. Ainda assim, a resiliência da Nvidia impressiona: após uma queda em abril, a empresa recuperou impressionantes US$ 1,5 trilhão em valor de mercado.
Huang aciona plano estratégico após esperar o momento certo
Jensen Huang, cofundador e líder carismático da Nvidia, retomou as vendas nesta semana após nove meses de pausa. As transações seguem um plano predefinido, registrado em março, que automatiza operações para evitar suspeitas de uso de informação privilegiada.
“Ele demonstrou timing impecável”, analisa Ben Silverman, da VerityData. “Manteve as ações durante a queda do primeiro trimestre e só as liberou agora, com a recuperação.” O esquema permite que Huang venda até 6 milhões de ações até dezembro — o que, cotadas hoje, renderiam cerca de US$ 900 milhões. Mesmo após as vendas, seu patrimônio líquido permanece estimado em US$ 138 bilhões.
Outros nomes de peso seguem o movimento
A estratégia não se limita ao CEO. Mark Stevens, investidor histórico e ex-sócio da Sequoia Capital, planeja alienar até 4 milhões de ações (US$ 550 milhões ao preço atual), tendo já realizado US$ 288 milhões. Jay Puri, vice-presidente de operações globais, liquidou US$ 25 milhões em papéis na quarta-feira.
Dois membros do conselho também entraram na dança: Tench Coxe, veterano que acompanha a Nvidia desde sua fundação em 1993 em uma lanchonete Denny’s, vendeu US$ 143 milhões no início do mês. Brooke Seawell, da New Enterprise Associates, realizou US$ 48 milhões.
Legado e futuro: de placas de videogame a potência global
A trajetória da Nvidia espelha a evolução da tecnologia nas últimas décadas. Começando com gráficos para jogos, a empresa reinventou-se como peça-chave na revolução da IA. Mesmo com os desafios geopolíticos e a ascensão de concorrentes como a chinesa DeepSeek, sua influência só cresce — moldando não apenas o futuro da computação, mas também os rumos da economia global.
Enquanto o mercado especula sobre seus próximos passos, uma coisa é certa: os executivos da Nvidia estão escrevendo seu próprio roteiro financeiro, combinando visão de longo prazo com oportunismo calculado.