A investigação do Ministério Público Federal (MPF) revelou que executivos da Americanas manipulavam o mercado financeiro para embasar fraudes nos balanços da empresa.
O esquema envolvia a divulgação de estimativas de ganhos falsas e superestimadas aos analistas, que, por sua vez, ajustavam suas expectativas de resultados da companhia.
Manipulação de balanços
De acordo com a delação da ex-superintendente da Controladoria da Americanas, Flávia Carneiro, a empresa mantinha um arquivo chamado “verdes e vermelhos”, que comparava os números do balanço com as expectativas do mercado. Os executivos usavam esses dados para ajustar os balanços e atender às projeções dos analistas.
A crise financeira da Americanas, com um rombo de R$ 20 bilhões, se agravou com a revelação dessas práticas fraudulentas. O diretor de Relações com Investidores, Fabien Picavet, era o responsável por sondar o mercado e manipular os dados divulgados.
Conversas interceptadas entre Carneiro e Picavet mostraram que os executivos buscavam construir a melhor “narrativa” para o mercado. Em um diálogo de julho de 2020, Picavet falou sobre “refazer a análise [dos números] e montar o discurso” para atender às expectativas do mercado.
Inflação artificial das ações
O objetivo dos executivos era inflar artificialmente o preço das ações da Americanas. Eles manipulavam não apenas os lucros, mas também as despesas, como os valores de aluguel, para atender às expectativas do mercado. Em uma conversa de agosto de 2020, Carneiro explicou que a equipe de auditoria estava “criticando a linha [os valores] de aluguel”, mas que ajustariam os números conforme necessário.
Para o MPF, é claro que os diretores da Americanas usavam as perspectivas do mercado para fabricar os resultados da empresa. Diálogos interceptados mostraram que os números eram decididos de forma arbitrária, sem parâmetros mínimos, apenas para entregar resultados fictícios.
O ex-diretor Fabien Picavet, em uma conversa com Flávia Carneiro, cobrou insistentemente as cifras parciais do balanço adulterado, demonstrando a pressão sobre os executivos para atender às expectativas do mercado. Ele mencionou que “relatórios saindo com uma dispersão maluca” indicavam a necessidade de ajustes rápidos.
Operação Disclosure
A operação da Polícia Federal baseada nas delações premiadas de Flávia Carneiro e Marcelo Nunes revelou o esquema de fraude e levou a buscas e apreensões na quinta-feira (27).
A Polícia Federal fez operação na manhã desta quinta (27), no Rio de Janeiro, contra ex-diretores das Americanas por fraudes nos balanços da varejista que somam R$ 25,3 bilhões. pic.twitter.com/Mf1WWu1XQw
— UOL Notícias (@UOLNoticias) June 27, 2024
Entre os alvos estavam o ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, e a ex-diretora Anna Ramos Secali, que estão foragidos. A defesa de Gutierrez afirmou que ele “jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude”.
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